sábado, 18 de maio de 2024

Crônica da luz intermitente

Aquele teria que ser um dia muito especial, bem fora da minha rotina. Foi 1º de maio de 2024, algo bem recente, Dia do Trabalhador e dia dos lançamentos do livro “Manual para corações machucados”, de Bruna Lombardi, atriz e escritora, e do livro “A vida é um presente: mantras para o seu dia a dia”, da apresentadora e jornalista Rita Batista, na Bienal do Livro em Salvador, dia do encerramento. Comprei o ingresso com oito dias de antecedência.

Saí cedo de casa, às 9 horas, uma vez que um bate-papo e a sessão de autógrafos estavam previstos para iniciar às 10 horas. Na frente de casa, à espera de um veículo por aplicativo, tive que retornar para pegar um dos livros de Bruna, para que ela autografasse, pois havia esquecido. Antes do horário, apesar de tudo, eu já estava no local. Combinei com André Batista, irmão de Rita, que nos encontraríamos lá e visitaríamos os estandes de venda, enquanto aguardávamos a presença das escritoras.

Já dentro da Bienal, num salão muito bonito e repleto de visitantes, resolvi mandar um áudio a meu amigo para ver onde ele estava, uma vez que não logrei êxito em fazer uma ligação. Minutos depois, ele responde dizendo que não poderia ir, que aconteceu um imprevisto, coisa dessa natureza.

Diante disso, fui buscar informação onde seria o local da palestra de Bruna e Rita, consequentemente, a sessão de autógrafos. Qual não foi minha surpresa quando alguém, do balcão de informações, me disse que Bruna Lombardi não viria. Lamentei muito, afinal, havia levado o primeiro livro dela, de poesia, “No ritmo da festa” (1976), prefaciado por Chico Buarque, para que ela o autografasse, como também compraria sua nova publicação. A verdade é que já tenho outro livro dela, autografado.

Recordei-me, nesse momento, de que o colega de trabalho e amigo, Marcos Navarro, sabedor de que eu iria à Bienal, mandou-me um link de um site de notícias dando conta de que Bruna não estaria na Bienal. Ignorei, pensando se tratar de notícia anterior, quando ela cancelou um lançamento no Rio de Janeiro, 25/4/2024, por conta de uma virose, segundo noticiou algum site, que não me recordo qual.

Apesar das duas notícias negativas, não fiquei tão triste assim. Fui visitar os estandes. Num deles, ao sair com o livro de Bruna embaixo do braço, um fiscal tocou-me o ombro e me pediu a nota fiscal do produto que portava, assim, sem a devida sutileza.

– Não tenho mais, comprei há muito tempo – e lhe passei o livro. Ele folheou, viu as páginas amarelecidas pelo tempo, viu também um carimbo da minha biblioteca pessoal e, com “a cara sambando”, meio desconcertado, pediu-me desculpa um tanto formal.

Isso, confesso, não me tirou a paz, afinal, fui meio displicente mesmo. Não deixei, evidentemente, de orientá-lo a ter mais cuidado ao se dirigir a alguém. Era um jovem, por certo, incipiente no desempenho daquela profissão.

Passado esse “desagradável” momento, me dirigi até a Arena Jovem, local onde aconteceriam as palestras e os autógrafos. Fui direto ao lugar onde estava sendo vendido o livro de Rita Batista. A vendedora, entretanto, me informou que os exemplares haviam acabado e que um mensageiro fora buscar mais livros em Brotas, bairro relativamente próximo da Bienal.

Confesso que, agora, fiquei decepcionado. E, em quase pânico, mandei um desesperado áudio para André, o já referido irmão de Rita, que, sorridente, procurou me tranquilizar:

– Relaxa, poeta, o seu tá garantido… e autografado!

Relaxar? Como? Eu queria, sim, era vê-la autografando, tudo filmado e fotografado, do contrário não teria graça. Procurei, a pesar de bem contrariado, seguir o conselho do amigo.

Ensimesmado, entrei na Arena Jovem e fiquei a aguardar o começo do evento, procurando me apaziguar, era o que me restava, afinal. Faltavam uns 20 minutos para ter início as palestras, quando – acreditem – a luz foi embora. Tudo só não ficou às escuras porque uma larga porta deixava entrar a claridade do lindo dia de Sol soteropolitano.

O tempo passou e nada de a luz voltar. Passavam muito das 10 horas, horário previsto para ter início as palestras, quando, furtivamente, Rita aparece no palco e foi aquela gritaria. Coisa de cinema. Quando olhei para o público, pude ver como se fosse uma nuvem de pirilampos. Eram as luzes dos muitos celulares nas mãos dos ávidos admiradores de Batista, merecidamente.

A apresentadora desceu do palco para tirar foto com seu público, enquanto a energia não voltasse. Aproveitei a ocasião, aproximei-me dela quanto pude, já que estava rodeada de fãs, e posicione-me para fazer uma selfie. Que surpresa bacana, quando vi que ela estava bem à altura do meu ombro. Aproveitei e lhe perguntei pela mãe, Dona Angélica, para revê-la e naturalmente registrar o singular momento.

Tudo continuava escuro. Rita voltou para os bastidores. E a luz voltou também! Minutos depois, a jornalista Rita, Alan Castro, poeta que substituiu Bruna, autor de quatro livros, dentre os quais “O colecionador de saudades” (2023), e a mediadora Gabriela Almeida voltaram ao palco. Quanta alegria! Quando Rita se sentou, pegou o microfone e começaria a falar… Imaginem: de novo, tudo virou breu! A energia foi embora! “Mas será o Benedito”, pensei cá com meus botões.

Rita Batista, ainda assim, não perdeu o rebolado: brincou com a situação e retornou para o camarim. Minutos depois, sem previsão de restabelecimento da energia, fomos orientados a nos dirigirmos ao Café Literário, no segundo andar, onde ocorreriam as palestras e a tão esperada sessão autográfica.

Antes de dirigir-me ao Café Literário, pude observar que os livros haviam chegado (milagre!) e estavam à venda. Peguei uma pequena fila (“furei”, melhor dizendo, dado o meu sexagenarismo) e comprei meu presente. Agora, sim, tudo finalmente estava começando a dar certo! Ufa! Ufa! Ufa!

Foto: Reprodução / Internet
O esperado bate-papo ocorreu em mesa composta por Rita, Alan e Cristina, intitulada “A insustentável leveza do ser”, o que me remeteu ao livro de mesmo nome do escritor tcheco Milan Kundera. O poeta Alan declamou alguns belos e encorajadores poemas, além de fazer emocionante relato do parto da esposa, quando ela trouxe à luz a menina Serena. Rita, por seu turno, animadíssima e irreverente, brincou, cantou e encantou o público presente naquele espaço, cuja lotação chegou ao máximo.

E a sessão de autógrafos? Creiam, não seria ali. Fomos para um grande salão ao lado, com grades de ferro que formavam um labirinto, para que as pessoas não aglomerassem juntos aos escritores. Tudo certo, “no padrão
, como dizemos. Na minha condição de sexagenário, adiantei-me um pouco na fila de espera. Só um pouco mesmo, já que havia outra para idosos. Eu preferi ficar na muvuca.

Finalmente, chegou a minha vez. Uma moça, que ajudava na organização, ofereceu-se para filmar e fotografar, o que me livrou de fazer selfies malfeitas. Pronto, missão cumprida e muitíssimo feliz. Amei as fotos e o vídeo, sobretudo a saga, o que me inspirou esta crônica. Ufa! Ufa! Ufa!


André Batista e Novais Neto. Dique do Tororó, Salvador, Bahia. Foto: André Batista.


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Às vezes, a vida nos surpreende tão imponderavelmente que nem mesmo o mais invulnerado coração pode p rever e prevenir-se de algo que não de...