segunda-feira, 5 de junho de 2023

A palavra Amor

Numa tarde de Carnaval, lá pela década de 1990, eu estava sentado nas escadarias da Livraria Santamariense [sic], quando veio falar comigo o poeta e amigo Valter Batista, nosso Doxa, de saudosa memória, com uma camiseta cor de bonina e, na cabeça, um lenço cor de abóbora, com meneios típicos de quem houvera ingerido algumas boas geladinhas – podia-se notar –, que foi direto ao assunto:

— Poeta, eu tava lendo hoje seu livro “Ave Corrente”, de 120 páginas, e contei 120 vezes a palavra “amor”. Isso foi de propósito?

Antes de responder, fiz uma cara de surpresa e lhe disse um lacônico não. Reafirmei, a seguir, que foi apenas coincidência, pois nem sabia disso, todavia fiquei a matutar: “Caramba! O cara parou para contar quantas vezes eu usei a palavra ‘amor’?!”. Pois é, mesmo assim nossa prosa fluiu graciosamente e, ainda que num dia momesco, festivo, o assunto foi poesia. E muita poesia.

Como resposta à subitânea pergunta do querido amigo, dediquei-lhe a pirracenta poesia “A palavra amor”, que está na página 55, do meu livro “Meu lugar é aqui no Centenário de Santa Maria da Vitória”, lançado em 2009, durante as comemorações dos 100 anos de emancipação política da cidade, em cujo evento ele se fez presente, sorridente e participativo como de costume:

Valter Batista (Doxa) e Novais Neto. Foto: Marco Athayde, 2009.
Desculpa-me, Caro Poeta,
Se abusei da palavra Amor.
É que só o Amor me completa
E só sei rimar Amor com Amor.

Não sei versejar em protesto,
Tento fazer versos de Amor.
Por esta razão – e de resto –
Continuarei rimando Amor.

Não pretendo mudar, por hora.
Se cem vezes falei Amor,
Dez vezes, somente agora,
E mais uma vez repito: Amor.

Desculpa-me, Caro Poeta,
Eu respeito sua opinião,
Mas insisto ser esteta:
Falar de Amor sem restrição.




Valter Batista (Doxa) e Novais Neto. Foto: Marco Athayde, 2009.
Depois de alguns anos, a palavra que me deixou muito pensativo, coincidentemente num Carnaval, foi “amigo”. Termo tão carregado de simbologia, impregnado de boas energias, que gostamos de ouvir, principalmente, quando vem com ele sinceridade em ações, quando nos conforta e socorre.

Ainda assim, tão expressivo e belo termo, que tantas vezes nos acaricia o coração, acolhe e abraça, ele também o dilacera, mormente quando vem inesperado, mas verdadeiro, de quem gostaríamos de ouvir algo mais romântico, afetivo. O vocábulo “amigo”, portanto, também delimita espaço, manda ter cautela e faz ainda sutil e silencioso alerta, como se, merencórico, nos sussurrasse ao ouvido incrédulo: “somos amigo, apenas amigos, lembre-se disso”.

Diante desta dura e indubitável constatação de que fui, certa ocasião, ouvinte atento e não desejado, tentei sintetizar nesta trova, isto é, em apenas 28 sílabas poéticas, o “amigo” restritor, impassível, limitativo, que não nos deixa margem a possíveis questionamentos:

Tentei ser entendedor
Do que se passou comigo,
Precisamente no Amor,
Quando escutei: “Meu Amigo”.

Referências:

NOVAIS NETO. Meu lugar é aqui no Centenário de Santa Maria da Vitória. Salvador: Press Color, 2009. p. 55.

13 comentários:

  1. Com Amor caro poeta
    Seus contos causa-me saudade
    Comove meu coração
    Relembrar Samavi nossa cidade

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  2. Grande amigo Novais ,é uma grande satisfação lêr essas poesias ,e histórias contadas por você.,grande amigo e saudoso Doxa muito bem ter lembrado dele meu amigo , grande abraço coroa kkk, (Lucílio Arlindo).

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  3. O amor vai ser sempre o amor

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Gostei amigo. Principalmente por conter duas palavras muito emblemáticas, Amor e Amizade.
    Você é 10, sempre com amizade e amor coração. A recíproca é verdadeira.

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  6. Muito legal .Amor é Amizade e Amizade também é Amor.Seria muito melhor se ambas fluissem e consolidassem neste momento tão conturbado que estamos vivendo. Valeu por maus esta,velho amigo e guerreiro.

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  7. Mais esta .corrigindo.

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  8. Você é um amor, meu amigo. Bjs

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  9. Meu grande amigo Novais Neto. Sempre gosto de ler as suas publicações. Que bom lembrar do nosso amigo Doxa. Grande abraços

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  10. Inusitado.
    Nunca tinha visto alguém contar palavras em uma leitura. Rsrs

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  11. Sensacional "Novas". A curiosidade de Doxa contar a quantidade da palavra mostra interesse pela leitura interessante.

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