— Poeta, eu tava lendo hoje seu livro “Ave Corrente”, de 120 páginas, e contei 120 vezes a palavra “amor”. Isso foi de propósito?
Antes de responder, fiz uma cara de surpresa e lhe disse um lacônico não. Reafirmei, a seguir, que foi apenas coincidência, pois nem sabia disso, todavia fiquei a matutar: “Caramba! O cara parou para contar quantas vezes eu usei a palavra ‘amor’?!”. Pois é, mesmo assim nossa prosa fluiu graciosamente e, ainda que num dia momesco, festivo, o assunto foi poesia. E muita poesia.
Como resposta à subitânea pergunta do querido amigo, dediquei-lhe a pirracenta poesia “A palavra amor”, que está na página 55, do meu livro “Meu lugar é aqui no Centenário de Santa Maria da Vitória”, lançado em 2009, durante as comemorações dos 100 anos de emancipação política da cidade, em cujo evento ele se fez presente, sorridente e participativo como de costume:
Se abusei da palavra Amor.
É que só o Amor me completa
E só sei rimar Amor com Amor.
Não sei versejar em protesto,
Tento fazer versos de Amor.
Por esta razão – e de resto –
Continuarei rimando Amor.
Não pretendo mudar, por hora.
Se cem vezes falei Amor,
Dez vezes, somente agora,
E mais uma vez repito: Amor.
Desculpa-me, Caro Poeta,
Eu respeito sua opinião,
Mas insisto ser esteta:
Falar de Amor sem restrição.
Valter Batista (Doxa) e Novais Neto. Foto: Marco Athayde, 2009. |
Depois de alguns anos, a palavra que me deixou muito pensativo, coincidentemente num Carnaval, foi “amigo”. Termo tão carregado de simbologia, impregnado de boas energias, que gostamos de ouvir, principalmente, quando vem com ele sinceridade em ações, quando nos conforta e socorre.
Ainda assim, tão expressivo e belo termo, que tantas vezes nos acaricia o coração, acolhe e abraça, ele também o dilacera, mormente quando vem inesperado, mas verdadeiro, de quem gostaríamos de ouvir algo mais romântico, afetivo. O vocábulo “amigo”, portanto, também delimita espaço, manda ter cautela e faz ainda sutil e silencioso alerta, como se, merencórico, nos sussurrasse ao ouvido incrédulo: “somos amigo, apenas amigos, lembre-se disso”.
Diante desta dura e indubitável constatação de que fui, certa ocasião, ouvinte atento e não desejado, tentei sintetizar nesta trova, isto é, em apenas 28 sílabas poéticas, o “amigo” restritor, impassível, limitativo, que não nos deixa margem a possíveis questionamentos:
Tentei ser entendedor
Do que se passou comigo,
Precisamente no Amor,
Diante desta dura e indubitável constatação de que fui, certa ocasião, ouvinte atento e não desejado, tentei sintetizar nesta trova, isto é, em apenas 28 sílabas poéticas, o “amigo” restritor, impassível, limitativo, que não nos deixa margem a possíveis questionamentos:
Tentei ser entendedor
Do que se passou comigo,
Precisamente no Amor,
Quando escutei: “Meu Amigo”.
Referências:
NOVAIS NETO. Meu lugar é aqui no Centenário de Santa Maria da Vitória. Salvador: Press Color, 2009. p. 55.
Capa, contracapa e orelhas do livro Meu lugar é aqui... Foto: Hermes Novais. |
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