sexta-feira, 1 de abril de 2022

Quando alguém se intromete em conversa alheia

Era uma sexta-feira como qualquer outra, que modernamente virou o verbo “sextar”. Aqui em Salvador, no entanto, é dia em que os restaurantes servem a seus clientes as tradicionais moquecas, prato por demais apreciado por turistas e soteropolitanos, para que a conjugação verbal seja perfeita e deliciosa.

Entrei num desses locais onde já sou habitual frequentador. Em uma das mesas, dois jovens rapazes apreciavam, com visível prazer, vistosos pratos de moqueca de arraia, o que me aguçou o apetite a também fazer o mesmo que eles.

Moqueca de arraia. Foto: Cláudio Meirelles (gastrólogo), 2022
Antes, no entanto, de pedir minha desejada refeição, perguntei ao cozinheiro:

— Tem camarão nessa moqueca, meu amigo?

Antes de o cozinheiro me responder, um dos jovens se antecipou:

— Se não tiver camarão, não é moqueca! — manifestou-se, convicto, um culinário especialista.

Não lhe dei atenção naquele momento e nem mesmo vi qual deles falou. Ignorei-o. Neste ínterim, entretanto, ouvi a resposta do mestre da cozinha:

— Tem não, meu senhor. Pode comer sem medo!

Agradeci-lhe e me voltei então para a mesa onde estavam os jovens comilões. E, com indisfarçada ironia, formalmente, gratulei:

— Muito obrigado, meu jovem! — para surpresa de ambos: um deles, sem saber onde meter a enrubescida face, provavelmente o lambisgoia, enquanto o outro tentava vãmente conter insistente riso, a ponto de cobrir a boca com a mão, para que comida e gargalhada não saíssem.


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