Entrei num desses locais onde já sou habitual frequentador. Em uma das mesas, dois jovens rapazes apreciavam, com visível prazer, vistosos pratos de moqueca de arraia, o que me aguçou o apetite a também fazer o mesmo que eles.
Moqueca de arraia. Foto: Cláudio Meirelles (gastrólogo), 2022 |
— Tem camarão nessa moqueca, meu amigo?
Antes de o cozinheiro me responder, um dos jovens se antecipou:
— Se não tiver camarão, não é moqueca! — manifestou-se, convicto, um culinário especialista.
Não lhe dei atenção naquele momento e nem mesmo vi qual deles falou. Ignorei-o. Neste ínterim, entretanto, ouvi a resposta do mestre da cozinha:
— Tem não, meu senhor. Pode comer sem medo!
Agradeci-lhe e me voltei então para a mesa onde estavam os jovens comilões. E, com indisfarçada ironia, formalmente, gratulei:
— Muito obrigado, meu jovem! — para surpresa de ambos: um deles, sem saber onde meter a enrubescida face, provavelmente o lambisgoia, enquanto o outro tentava vãmente conter insistente riso, a ponto de cobrir a boca com a mão, para que comida e gargalhada não saíssem.