São Francisco de Assis, o patrono da Ecologia, protetor dos animais e das plantas, os quais ele chamava de “meus irmãos”, segundo contam, tinha até o dom (e privilégio) de falar com os bichos. Brigitte Bardot, premiada atriz francesa, militante pelos direitos dos animais, tem lugar destacado, além dos destemidos integrantes do Greenpeace na diuturna defesa das espécies ameaçadas de extinção.
No Brasil, os irmãos Vilas-Boas e Chico Mendes não podem ser esquecidos, dentre outros. Como também merece ser citado, não que tenha sido necessariamente protetor dos irracionais, o ex-ministro do Trabalho, da Era Collor, Rogério “Imexível” Magri. Segundo noticiou a mídia da época, ao ser flagrado e interpelado por um repórter, porque estaria levando seu cão ao veterinário em veículo oficial, ele teria respondido enfaticamente:
— Cachorro também é ser humano!
Um acontecimento, entretanto, mais próximo às pessoas que me rodeiam, foi-me narrado por um amigo coribense. Segundo ele, Hermes, meu irmão, ao passear pela feira livre na cidade de Coribe, Extremo Oeste baiano, deparou-se com um homem vendendo uma guariba. Guariba é uma espécie de macaco, também conhecido por barbado ou bugio, catalogado entre os animais ameaçados de extinção.
Hermes ficou penalizado ao ver o infeliz símio, uma fêmea, amarrada pela cintura, a gritar desesperadamente, tentando soltar-se. Indignado, perguntou àquele senhor quanto queria pelo bicho.
— Cinquenta real — respondeu secamente o feirante.
Meu irmão consultou a carteira e viu que não dispunha daquele montante. Pediu ao amigo acompanhante que o aguardasse ali mesmo na feira, enquanto ele iria providenciar a grana.
Valendo-se da sabedoria popular que assegura: “Mais vale um amigo na praça do que dinheiro no bolso”, saiu em busca desse amigo e, sem muita dificuldade, já que naquele rincão ele os tem muitos, logo retornou com o dinheiro contadinho.
Comprou a sofrida macaca e, com o mesmo amigo que o acompanhava na feira, partiu para os Gerais, lá para as bandas de Correntina, onde iria soltá-la.
Aliviado e feliz, ao chegar ao destino planejado, bem no seio do habitat daquele sofrido e maltratado primata, livrou da corda a pobre macaquinha e devolveu-lhe a liberdade tão brutalmente arrancada.
Outro episódio, não dramático e comovente com este, porém a beirar o pitoresco, capaz de provocar frouxo de riso, a vítima desta vez foi exatamente este que escreve.
Tenho uma amiga de longas datas, Dina Marchesini, protetora fervorosa dos animais, que chega a valer-se da famosa frase creditada ao poeta português Alexandre Herculano, que teria dito: “Quanto mais conheço os homens, mas estimo os animais”, para justificar o amor que ela dispensa pelos bichos, principalmente aos cães e gatos.
Ela é médica pediatra, professora acadêmica, conhecedora profunda da Homeopatia e seguidora e praticante dos ensinamentos do médico alemão Samuel Hahnemann, pai daquela especialidade médica, fez-me, certa ocasião, vítima das minhas próprias brincadeiras, que ela tão bem as conhece.
Um dia qualquer, à noite, ao digitar uma aula que ministraria a seus alunos de pós-graduação, na UFBA, não havia jeito de eu entender o que ela me explicava. Tentou, tentou, até que determinada palavra por ela pronunciada ativou-me os neurônios adormecidos e, em tom de gozação, exclamei:
— Vixe Maria, eu sou é um jumento mesmo! — foi tão somente o que disse.
Dina olhou-me fixamente por alguns instantes. E eu fiquei até a pensar, como seria natural, que ela fosse me defender e dizer que apenas não entendi ou — sei lá! — que houve falta de clareza da parte dela. Mas não. Ela continuou a olhar-me detidamente e em tom de reprovação, discursou serenamente:
— Ô, meu Deus do Céu, porque tudo que não presta neste mundo vai pra conta deste pobre coitado? Logo ele, nosso irmãozinho inferior, que carregou Nosso Senhor Jesus Cristo nas costas! O jumento é um animal sagrado! Pelo amor de Deus, ele não merece isso, não! Tem dó!
Fiquei sem ação, absorto. Mentalmente, até cogitei corrigir-me e dizer que eu não era um jumento, mas, um burro. Percebi, entretanto, que o burro também é animal e aí o tiro poderia sair pela culatra. Nesse caso, o mais prudente seria ficar calado. E foi o que fiz. Afinal de contas, “burro calado se torna sábio”, ensina-me a oportuna máxima popular.
Lembrei-me — e só fiz lembrar mesmo! — do nosso inesquecível Luiz Gonzaga, Seu Lua, o Rei do Baião, que soube por certo agradar à minha amiga, quando afirma categoricamente em uma de suas memoráveis composições, juntamente com o amigo Zé Clementino, que “O Jumento é nosso irmão”.
“Seu Lua, Seu Lua, por que não fui me lembrei disso antes?!” — mental e tardiamente lamentei.
Foto: Reprodução / Internet. |
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