Bateu-me no peito, hoje, de manhã, uma saudade muito grande, imensurável, desmedida, sem limite. Se estivesse falando isso a um amigo ou conhecido e não escrevendo esta crônica, sem qualquer dúvida, diria desse jeito, para não fugi de minha origem: “Ô, môss, eu amanheci hoje foi com uma saudade disgramada. Num sei que troço foi esse. Tô até mei desanimado”.
“Saudade é assim mesmo”, por certo, algum amigo me diria para me animar. É que, sorrateiramente, ela aparece por um motivo até banal — se tolamente julgado à luz da razão. E não importa que o termo não exista em outro idioma — felicidade nossa —, mas todos a sentimos, dê-lhe o nome que quiser. Feliz daquele que tem motivo para senti-la, porque, de uma forma ou de outra, a saudade é a lembrança de algum momento vivido. Saudade de algures, saudade de alhures. Ou simplesmente saudade, por uma razão qualquer, isso pouco importa!
Essa coisa boa que tomou de mim, aqui chamada saudade, teve uma boa razão de aflorar. É que, revirando fotos antigas dos tempos de juventude, deparei-me com uma que só me trouxe recordações reconfortantes: é uma do time do Fluminense de Batista, o Fluminense da Rua de Cima. Esse retrato fez-me retroagir ao ano de 1975, quando este que escreve, jogava no citado tricolor. Desculpe-me pela força do termo “jogava”, melhor seria dizer “maltratava a bola”. Como não havia outro esporte naquele distante ano em nossa cidade, tinha mesmo era que tentar “dominar a pelota” a qualquer custo, para assim ficar no meio dos amigos, visto que outro esporte, o basquete, ainda engatinhava.
No Centro Educacional Santamariense (CES), o Colégio dos Padres ou Escola Paroquial, como também era conhecido, nosso professor de Matemática e Educação Física, Tércio Santana, Tutes, nos ensinou a jogar basquete, auxiliado pelos irmãos Anatole de Cotinha e Júnior França, que já sabiam jogar, mas estudavam no Colégio Maçônico Gonçalves Lêdo, onde formaram outra equipe com Deva Biduim, que já praticava tal esporte, e nossos times rivalizavam, ocasião em que, aos domingos, à tardezinha, a quadra do colégio (construída com ajuda dos próprios alunos) enchia de torcedores animados e torcedoras belas e esfuziantes.
Novais Neto, Milton de João Nogueira, Tutes, Rui Morais e Paulão de Petrônio. 1977. |
Foto 1: Novais Neto saltando, observado por Anatole, Júnior e Paulão. Foto 2: Deva Biduim tentando passar entre Novais Neto e Tutes, observado por Paulão. |
Identificados: Toginho de Zé de Tião, Júnior, César de Wilson Barros, Anatole, Tutes e Novais Neto. |
Só que as exceções ou contradições não acabavam por aí. Depois do advento do Rei Pelé, cabia ao craque do time vestir a camisa 10. E mais ninguém. No entanto, em razão de acirrada disputa por tal camisa entre Nego Lito, Titinho de Vidi e Charles de Adão Bodeiro, Saulim resolvia a polêmica questão deixando comigo, lateral esquerdo perna-de-pau, a responsabilidade e a enorme heresia de vestir a camiseta do Rei. Saulim, justamente ele, apreciador do bom futebol e bom de bola, fazer tal coisa, ninguém entendia. O fato é que a “briga” acabava e ninguém tinha o direito de vir reclamar comigo, “pobre inocente”.
Saulo, torcedor incondicional do Fluminense, tricolor que colecionava pôsteres do Flu e da Seleção nas paredes do quarto de dormir, retirados da Revista Placar, chegava a brigar, mesmo em sonho:
— Ninguém segura o Fluminense de Manfrini. Vai pra ponta direita aí, seu porra! — isso é o que Gezo, ponta direita de nossa equipe e gozador insistente, nos contava, para delírio de todos.
Quanto à velha fotografia do eternal momento — motivo desta crônica — estão presentes nela, além de Hermes (do Flamenguinho Juvenil, de Marinho da Casa Globo), o goleiro Coimbrão, Licura, Pedim de Maria Costa, Caramuru, Saulim de Dona Milu, Novais Neto, Nego Lito, Vá de Palu, Renatinho de Reinaldo, Miguelzim, Milton de João Nogueira, Charles de Adão Bodeiro, Gezo e Pedro do Posto Lisboa. Pertenciam ainda ao Flu Juvenil, Tito de Vidi, Zeto B12 e o técnico era Quinquinha de Milu, pai de Saulo e Batista, auxiliado por Miro Carne de Porca, não presentes nesta memorável recordação.
No ano de 1978, deixei minha terra natal rumo à Brasília. Naquela época, já fazia parte do time juvenil da Associação Atlética Castro Alves, ocasião em que a agremiação, devido a mudanças para outras cidades de alguns seus jogadores, lembro-me especialmente de César de Wilson Barros e este que escreve, fez uma partida de despedida entre dois times do mesmo juvenil, evento que terminou com um gol para cada lado. E um foi meu. O técnico de uma das equipes foi Seu Irênio e da outra, Dema Bodeiro.
Ainda me referindo aos amigos primeiros, da mais tenra idade, Agnelo de Donaricota, que virou Agnelo Profissi, conceituado professor de Matemática, foi quem me levou para ser goleiro do Ypiranguinha do Mestre Ló, mas não deu certo, mudei de posição e virei ponta esquerda. Ele até hoje se lamenta por ter sido vítima de um gol de córner por mim cobrado, num treino. Recordo-me, ademais, dessa época, de amigos e contemporâneos, tais como Abelzim do Pingo d’Água, Cabelo de Ovelha, Zelino Jega Véa, Pedim do Sal, Manoel Bracim, César de Wilson Barros, Bai de Coli, Binha de Emílio Leão, Jânio de Pina, os irmãos Pinga, Caolho e Mau de Josael do Armazém Conquista, Iran de Cícero Soldado, dentre tantos outros que já me escaparam dos escaninhos da memória.
E agora, como vou terminar esta crônica? Ela serviu de lenitivo para minha saudade, acalmou-me, ajudou a lembrar-me de velhos e queridos amigos, no entanto, “deixou-me no mato sem cachorro”. Não pensei que isso fosse acontecer e agora me vejo ante o vazio, frente a frente com o nada. Mas tudo bem, o objetivo foi atingido: fiz de um momento de saudade um motivo de ser grato à vida, de ser grato ao Criador e aos inesquecíveis amigos! E isto me faz um bem sem fim! Enorme!
— Ninguém segura o Fluminense de Manfrini. Vai pra ponta direita aí, seu porra! — isso é o que Gezo, ponta direita de nossa equipe e gozador insistente, nos contava, para delírio de todos.
Quanto à velha fotografia do eternal momento — motivo desta crônica — estão presentes nela, além de Hermes (do Flamenguinho Juvenil, de Marinho da Casa Globo), o goleiro Coimbrão, Licura, Pedim de Maria Costa, Caramuru, Saulim de Dona Milu, Novais Neto, Nego Lito, Vá de Palu, Renatinho de Reinaldo, Miguelzim, Milton de João Nogueira, Charles de Adão Bodeiro, Gezo e Pedro do Posto Lisboa. Pertenciam ainda ao Flu Juvenil, Tito de Vidi, Zeto B12 e o técnico era Quinquinha de Milu, pai de Saulo e Batista, auxiliado por Miro Carne de Porca, não presentes nesta memorável recordação.
Fizeram-me recordar ainda estes registros fotográficos amigos daquele tempo, pelos bons momentos vividos nas quadras da Sambaíba, de Chiquinho e Centro Educacional, e nos campos do Derba e no Campão, o atual estádio Turíbio Oliveira, tais como Marcelão Teixeira, os irmãos Toginho e Branco de Zé de Tião, Amarildo, Messias Chaves, Gival Matos, Tõi Rosinha, Tõi Coelho, os irmãos Bimba e Gilmar de Déo, Milton Churel, Dika de Charqueada, Doxa, Ítalo Ipojucan, Lulu de Valdim, Luciano Bahia, Pelé, Dão de Zé Maria, Zé Milton, Calai de Zé Belém, Zé de Maria, Dãozim de Antõi Bobó, Queiroz de Seu Tôni, Nisso, Ciço da Sambaíba, Galego, Nélson, Dena, os irmãos Tatém e Tio de Filó, Edilson de Dona Enide, Jorge de Zifina, Vanja, os irmãos Boião e Orelha, e os também irmãos China Show e Terto de Toge.
Quanto à quadra da Sambaíba a que me referi acima, não é a do extinto Clube Santa Maria, mas uma bem anterior, circundada por árvores, dentre elas, um frondoso juazeiro. Ela foi construída pelos funcionários do Banco do Brasil no início da década de 1960, para prática de futebol de salão e voleibol, e foi a primeira da nossa cidade. Como era caminho para roça do meu pai e do curtume, joguei lá muitas vezes com meus amigos de infância.
Ainda me referindo aos amigos primeiros, da mais tenra idade, Agnelo de Donaricota, que virou Agnelo Profissi, conceituado professor de Matemática, foi quem me levou para ser goleiro do Ypiranguinha do Mestre Ló, mas não deu certo, mudei de posição e virei ponta esquerda. Ele até hoje se lamenta por ter sido vítima de um gol de córner por mim cobrado, num treino. Recordo-me, ademais, dessa época, de amigos e contemporâneos, tais como Abelzim do Pingo d’Água, Cabelo de Ovelha, Zelino Jega Véa, Pedim do Sal, Manoel Bracim, César de Wilson Barros, Bai de Coli, Binha de Emílio Leão, Jânio de Pina, os irmãos Pinga, Caolho e Mau de Josael do Armazém Conquista, Iran de Cícero Soldado, dentre tantos outros que já me escaparam dos escaninhos da memória.
E agora, como vou terminar esta crônica? Ela serviu de lenitivo para minha saudade, acalmou-me, ajudou a lembrar-me de velhos e queridos amigos, no entanto, “deixou-me no mato sem cachorro”. Não pensei que isso fosse acontecer e agora me vejo ante o vazio, frente a frente com o nada. Mas tudo bem, o objetivo foi atingido: fiz de um momento de saudade um motivo de ser grato à vida, de ser grato ao Criador e aos inesquecíveis amigos! E isto me faz um bem sem fim! Enorme!
Time do Fubuia (Santa Maria) numa comemoração de final de ano. Década de 1990. |
Time do Carranca (Baneb, Salvador). Década de 1980. |
Time do Carranca (Baneb, Salvador). Década de 1990. |
Time da Compensação (Baneb, Salvador). Década de 1990. |
Time do Fubuia (Bariri, Eng. V. de Brotas, 1996). |
Torcedores do Fluminense - Estádio Turíbio de Oliveira (Turibão) - Santa Maria da Vitória (BA). 1976. |
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Gratidão sempre até por sentir saudades não é meu amigo?Um feliz e próspero Ano Novo,cheio de luz,paz em sua vida e em todos os seus.Bj grande!
ResponderExcluirÉ isso mesmo. Acho que nunca nos fará mal sermos gratos. Bjs.
ExcluirGrande amigo,
ResponderExcluirVoltar ao passado nos dá energia para viver o futuro. "Recordar é viver". Se eu que não participei, diretamente, dessa homenagem, me sinto muito grato, pois, vivi momentos semelhantes, imagine quem viveu diretamente.
Parabéns a todos os participantes, e a você ,principalmente, por fazer todos recordaram.
Obrigado, meu amigo, por tão sensíveis palavras. Abraço.
ExcluirQue belo Novais,essa sua capacidade de resgate de memórias ( imagino que o escritor enriqueça com o seu dom do poeta🙂) somado a registros concretos, como datas e fotos. Parabéns 👏💐👏
ResponderExcluirMinha querida Ilana, você, sempre muito sensível, só me anima a continuar com meus modestos escritos. Beijos.
ExcluirParabéns meu amigo!
ResponderExcluirEsses registros e histórias tão bem retratados pela sua memória, é um brinde, oferecido aqueles apaixonados pelo esporte, especialmente ao futebol, e que tbem puderam desfrutar, de períodos iguais em suas vidas inesquecíveis.
Obrigado!
Meu amigo Toinho, muito obrigado pelo seu comentário. Nós, sempre que podemos, estamos falando de futebol. Saudade. Grande abraço.
ExcluirAgradecido, Amigo!!!, por nos acalentar com mais esta linda crônica, nos propiciando com seu inesgotável acervo de fotos e memórias inesquecíveis com narrativa precisa e irretocável, deixando-nos felizes pela lembrança, mas saudosos por rememorar tão lindos tempos. Como recordar é viver, notadamente em dias tão difíceis e desafiadores por que passamos, mais do que oportuna foi extremamente tocante.
ResponderExcluirLembro-me claramente de todos esses queridos conterrâneos/contemporâneos, porquanto os acompanhava mesmo não tendo participado destas valorosas equipes futebolísticas que nos alegrava, dava vida e movimentava nossa querida SAMAVI.
Onde quer estejam cada um deles e a Você, desejo UM ANO NOVO pleno de felicidades com muita Luz e, sobretudo, Saúde para todos.
Artur César R. Fagundes
Salvador-Ba
Meu querido primo,muito tocante suas palavras. Que bom que esta crônica lhe tenha proporcionado a reviver bons momentos e amigos da nossa amada Samavi. Fraternal abraço, Tuca. Feliz Ano Novo.
ExcluirDeu me uma saudade muito grande do nosso e saudoso amigo Milton Nogueira, flamenguistas doente, parceiro do Ruy de Morais, botafoguense doente, como Dola, tio do Milton. Esqueceste do Italo Ipojucan, que jogou muito no Castro Alves. E Doxa também fez parte do time de basquete. Joãozinho.
ResponderExcluirMeu querido amigo Joãozinho, obrigado, por lembrar de outros amigos comuns. A memória está aí para nos pregar peça. Abraço.
ExcluirNova meu amigo seu acervo é uma verdadeira jóia. Como é bom rever nossas carinhas e relembrar tantas histórias.
ExcluirSenti falta do craque Amarildo. Êta bichim que dava trabalho pra gente marcar. Obrigado pelo presente amigo, e feliz 2021 para todos!
Que saudade amigos,obrigado Novaes por nos trazer belas lembranças
ResponderExcluirÔ palavrinha bonita, principalmente, quando nos revigora. Forte abraço.
ExcluirParabéns meu amigo,por resgatar esses momentos inesquecíveis, trás muitas lembranças da minha querida mãe, torcedora e cuidava com zelo e carinho dos uniformes do Castro Alves. Saudades dos querido amigos. Muita paz, saúde e sabedoria para continuar firme com as suas crônicas maravilhosas, que nos faz sentir bem. Feliz 2021 a todos.
ResponderExcluirObrigado, meu amigo Jorge. Que bom você ter gostado. Feliz Ano Novo para você e sua família. Abraço.
ExcluirNovais Poeta, escritor espetacular, único em nossa cidade que nos dá o prazer de oficializar parte da linda história de Samavi, através destas fontes inesgotáveis de conhecimentos.
ResponderExcluirOlá, meu amigo Raimundinho, obrigado, por suas palavras. Vamos continuar registando nossa amada Samavi. Abraço.
ExcluirParabens pela cronica Novais!Fez-me lembrar da Central de Cobrança com o time Carranca, saudades daquela epoca!!
ResponderExcluirIsso mesmo, meu amigo, o Baneb e a Central de Cobrança deixaram boas lembranças. Obrigado. Abraço.
ExcluirEu sou admirador de suas lindas cronicas. Nos faz voltar no tempo tal como se fora um filme no qual acabamos sendo artista ou figurante . Horado com sua resalva a mim Pedim do Sal . Eterna gratidão.
ResponderExcluirQue linda homenagear você fez aos seus contemporâneos, Figurinha! Olhando as fotos, parece muito com as fotografias do meu pai. Ele chegava do trabalho , vestia seu uniforme do Fluminense (parecia um jogador profissional) e ia “bater o baba” com os amigos. Vou procurar os registros, pra te enviar! Ele vai amar ouvir essa história! 😃😃😃😃😃
ResponderExcluirSOU SANTAMARIENSE..Sou desta terra, com muito orgulho –Mudei para Brasília em 1991, com 15 anos de idade.
ResponderExcluirVivi minha infância e parte da adolescência na nossa Amada Santa Maria da Vitória. E sempre estou por lá, visitando parentes e amigos, que lá deixei...Sou filho de Dona Alzira e Tonhão de Zé Grande, do Brejo do Espirito Santo. Sou primo de Noêmia e Neilton de Seu Nîna e também sou sobrinho de Dona Fidelcina do Brejão.
Sou sobrinho do PROFESSOR AGNELO ALVES DO NASCIMENTO, lendário professor de matemática de uma geração “inteira” de Santa Maria da Vitória.
Meu amado Tio Agnelo - AGNELO DE DONARICOTA, como bem destacou nosso ilustre poeta NOVAES NETO, muito querido em nossa cidade, Prof AGNELO, infelizmente nos deixou, está com Jesus Cristo. Pessoa do bem, humano, humilde, caridoso, inteligente, leal....
Ao grande poeta NOVAES NETO, MUITO OBRIGADO, por rememorar, histórias e pessoas de nossa terra....Muito contente em saber que você era amigo de infância do meu tio Agnelo, conheceu minha Vó Donaricota...
Att. ANTÔNIO MARCOS – Sobrinho do Professor Agnelo Nascimento