domingo, 22 de dezembro de 2019

Uma noite chamada Natal

Num certo ano da década de 1980, quando ainda era funcionário do Banco do Estado da Bahia, havia planejado passar o Natal em Santa Maria da Vitória, mas, por uma razão que não me recordo, a viagem não deu certo e eu acabei tendo que ficar em Salvador, trancafiado num apartamento, vendo o Natal acontecer lá fora. Porém, não foi tão ruim assim. Aproveitei o momento para refletir, ouvir música e, finalmente, escrever o poema Uma noite chamada Natal, que me serviu de bálsamo, de resignação e me fez relembrar antigos Natais.



Uma noite chamada Natal


Quatro formidáveis paredes me detêm,
Prendem-me o corpo físico, inerte.
Porém, a vontade incontida de voar
Me leva a mundos imaginários:
Vou até Pasárgada, de Bandeira, e
Encontro, sem esforço, a mulher
Que quero do sonho não sonhado.

Tudo é tão rápido quanto inexplicável
Porque o tempo aparentemente gasto
Não cabe no transcorrido tempo real.
A viagem é estranhamente bela
Porque me deixa nos olhos da vida
Um agridoce gosto de saudade.

Volto aos Natais de um sapato de couro:
Duro, surrado...
Embaixo de uma cama de molas espirais
E colchão de junco: artesanal, xadrez,
Cuidadosamente confeccionado,
À espera de uma bola de matéria plástica.

Mas os dias são outros e bem reais,
E quatro formidáveis paredes de um
Apartamento me detêm, inapelavelmente,
Restando-me degustar os sofridos
Versos deste poema que, ainda assim,
Ousam libertar-me desta clausura.

5 comentários:

  1. Adorei te ver ressitando o seu poema!!


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  2. Versos marcantes que certamente, muitos amigos passaram por momento semelhante!Avante grande Nova!

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  3. Muito legal versos realmente marcantes q fezem parte da vida d brasileiros q por um motivo maior festeja o natal longe de casa...

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  4. Uma biografia diária. De um dia de Natal do incrível poeta Novais Neto. Parabéns pelo poema!

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