Nesta crônica, revista e ampliada, mostro que
alguns apelidos podem produzir risíveis momentos.
Você sabe qual é o meu
prenome? Acho que não. Deve saber meu apelido, que não chega necessariamente a
sê-lo, pois é nome de família, um cognome. Mas sobre isso, depois eu conto, porque são justamente as alcunhas que me motivaram escrever esta crônica,
e até outra por título “Histórias que apelidos contam”, que brevemente publicarei.
São particularmente
interessantes alguns apelidos que a gente ouve por aí, principalmente no meio
futebolístico. Muitos deles eu os acho bonitos, diria melhor, diferentes, tais como Obina, Vampeta, Marião e tantos outros.
Na minha Santa Maria da
Vitória, há de montão, alguns impronunciáveis — aqui — porque por lá todo mundo
fala com a maior naturalidade, nem se dando conta de que são termos chulos.
Hoje, entretanto, depois de mais
de quatro decênios vivendo em Salvador, quando os ouço, vem-me a inevitável
nostalgia e risíveis lembranças que instigam minha memória afetiva.
Outro dia, liguei para um
conterrâneo e quem me atendeu foi sua secretária do lar:
— Bom dia! Por favor, Preto
está?
— Aqui não tem nenhum Preto,
não, meu senhor.
— Como não? Aí não é a casa
de um médico de Santa Maria, filho de Tiãozinho do Mercado?
— É, sim. Mas o nome dele
não é Preto, não, meu senhor. O nome dele é doutor Reinaldo Ataíde.
— Tá bem, desculpe-me. Mas,
por favor, diz para ele que Novais, de Santa Maria da Vitória, ligou, tá certo? Muito obrigado.
Deixei meu telefone e Preto,
gentilmente, retornou a ligação com o sorriso de praxe, porque sua secretária
naturalmente lhe contou o ocorrido.
Dr. Reinaldo Ataíde entre os pais Renilde e Tiãozinho. Foto: Reprodução / Facebook. |
Ainda sobre meu compatrício,
seu tio Arnaldinho me contou a história de uma cirurgia que Preto fez em uma
amiga santa-mariense, num hospital em Salvador. Quando esta amiga ainda se
recuperava da anestesia na sala de pós-operatório, começou a chamar por alguém
desconhecido dos médicos, como se estivesse a delirar.
— Cadê Pretim? Eu quero
Pretim. Traz Pretim aqui, pelo amor de Deus.
O estranho apelo deixou os
médicos perplexos, pois o amigo dela, Pretinho, eles desconheciam. Quando,
então, doutor Reinaldo chegou, o episódio lhe foi narrado, e ele, para surpresa
dos seus pares, confessou:
A propósito de outro apelido, lembro-me do odontólogo Vandnaldo Valeijo Pinto ou simplesmente Vando, amigo e concunhado soteropolitano, que um dia me ligou sorridente e feliz para contar-me sobre uma bela descoberta que fizera:
— Novais, tô aqui num consultório e descobri que o médico que tá me atendendo, gente boa demais e competente, é da sua terra. O nome dele é doutor José Otávio. Você conhece ele?
— Conheço não, Vando. Deve ser novato na cidade — respondi, convicto.
Novamente o celular tocou.
Era Vando com mais informações:
— Ele disse que lhe
conhece, que seu pai é sapateiro, amigo do pai dele, que também é médico. E dos bem antigos da cidade. O nome do pai dele é doutor Aziel Almeida.
E ainda a despeito de apelido, esse risível episódio, ocorrido comigo, não posso, jamais, deixá-lo de fora desta crônica, senão vejam:
Tempos atrás, ao passar pelas imediações do Fórum Ruy Barbosa, no Campo da Pólvora, em Salvador, dentre os muitos transeuntes, eis que me deparo com três rapazes, de paletó, bem trajados, o que é bem comum naquele logradouro, que andavam em minha direção. Ao aproximarem-se de mim, eis que um deles se deteve, olhou para mim, que também havia parado, e me disse:
— Eu acho que te conheço, só não me recordo do seu nome.
Olhei também para ele, busquei minhas fugidias memórias afetivas, já bem distantes, e fiz o mesmo:
— Também me lembro de você, acho que do Colégio dos Padres, em Santa Maria, mas esqueci o seu nome. Então, estamos empatados. Acho que me lembro do seu apelido, posso dizer?
— Claro, que sim, fique à vontade — disse o meu “quase desconhecido”.
— A gente chamava você era de Pai de Chiqueiro, não é isso mesmo?
— Não! Não, môç! Vocês me chamavam era de Pai d’Égua — falou com um sorriso meio contido, sem graça, para arrancar enorme gargalhada de seus pares e olhares curiosos dos passantes. Ele, então, para não ficar à parte, entrou no time dos incontidos gargalhantes e sorriu enormemente. Despedimo-nos, ainda sorridentes. E felizes, sem dúvida alguma! No final do ano passado, 2023, ele novamente me reconheceu a andar pelas ruas do Bairro de Brotas e, aí sim, trocamos contatos. Essa figura, motivo dos frouxos de risos, é o advogado tributarista, Rogério Brandão, nascido no Distrito de Porto Novo, pertencente a outrora cidade baiana de Santana dos Brejos, atualmente, apenas Santana.
Agora que já falei de apelidos alheios, lembra-se do título desta crônica? Pois, bem, vou contar-lhe, então, porque resolvi escrevê-la.
Meu pai registrou-me Adnil,
nome do pai dele. Só que, desde de menino, jamais me chamaram
assim. A verdade é que meu tio materno, Osias Almeida, também poeta, achava o
nome pouco sonoro, não impactante e feminino, e começou a chamar-me apenas
Novais.
E assim me acostumei. Tanto
é, que na minha cachimônia coexistem em harmonia os dois nomes: Adnil, o
estudante aplicado e introvertido, e Novais, mais liberto, que sou eu, a mistura dos dois.
Certa ocasião, eu estava numa sala ao lado da sapataria do meu pai, em nossa casa, quando entrou um
brejeiro e o saudou alegremente:
— Adeusim, Bastião! Cuma tem
passado? Cumé que tá Adnil?
— Eu vou mal e mal. Adnyl é que tá embaixo de
sete-palmos, cumpanhero. E já faz é um tempão.
— Oxente, home, deixa de
caçoada! Tá pilheriano cumigo, Tião? Será que tô ficando abilobado ou tô veno
visage? Apois, isturdia, eu vi ele na feira comprano piqui e cagaita, muito alegre
e sastifeito, num parecia doente, não. Cê quer dizer, entonce, que seu fii
morreu?!
— Morreu não, môss! Tô bestano. Eu
pensei que cê perguntou foi por meu pai Adnyl. Novais tá vivim da silva, graças
a Deus. Eu qu’isqueço que o nome dele também é Adnil. A gente só chama ele de Novais
e aí eu acabo esqueceno.
Neste momento, fui para tenda de sapateiro cumprimentar o senhor que procurou por mim, e tudo terminou numa bela risadaiada, como normalmente por lá dizemos, em lugar de risadaria.
Finalmente, a propósito do
meu nome, veja o que me restou desse caricato bolodório: eu, que sou filho de
Tião de Adnyl, sou também Adnil de Tião. Ou, para ser mais claro e evitar qualquer
possibilidade de homonímia, sou, sem dúvida alguma: Adnil de Tião de Adnyl.
Obs.: Crônica publicada inicialmente no Jornal ComércioHoje, de Santa Maria da Vitória, edição de nov/dez-2006.
Muito interressante os apelidos.Aqui sou nena,emAnapolis Janilza.No tempo que lecionava pra criancas tia Jane,pros adolescentes Janilzao. Gostei dos apelidos que voce fez referencia e sobretudo sobre o titulo;uma bela piada.bjs
ResponderExcluirGostei, Janilzão. Abraço.
ResponderExcluirAmo suas crônicas poeta! Falando em Dr. Reinaldo Ataíde rsrs fui operada por ele no hospital São Matheus em Feira de Santana, por lá também ninguém conhecia o seu apelido rsrs eu fiz questão de dizer o apelido do meu conterrâneo e claro os risos foram muitos. Um grande abraço Novais.
ResponderExcluirQue legal. Obrigado. Aqui não apareceu o nome de quem escreveu. Quem é?
ResponderExcluirSensacional, eu era chamada pelo avó de risadinha, não sei porque kkkkkkk...parabéns pela crônica de interior onde todos se conhecem por apelidos, as vezes faz uma confusão kkkkkkkkk
ResponderExcluirObrigado. É isso mesmo. Abraço.
ExcluirGrandesíssimo Amigo que bom poder te dar um abraço mesmo que por via escrita, mas como és poeta entenderá. Obrigado pela referência, é uma honra. Quando vieres pras bandas de Aracajú me avise pra botarmos prosa em dia.
ResponderExcluirObrigado, meu amigo Pinha. A honra é minha. Quando pintar por aí, claro que vou procurá-lo. Abraço.
ExcluirAcho de certa forma carinhoso,quando os amigos me chamam pelo apelido.Valeu Nova!
ExcluirSensacional... amei a crônica.
ResponderExcluirObrigado. Abraço.
ExcluirNovais, amei sua crônica
ResponderExcluirVc escreve muito bem
É espirituoso. Vou divulgar sim. Merece ser lida pelos amantes de uma boa literatura.
Muito obrigado. Abraço.
ExcluirBom demais!👏👏👏
ResponderExcluirNovais suas crônicas enriquece o conhecimento de quem as lê. Além de histórias verídicas como estas que acaba de escrever. Sou seu fã de carteirinha. Parabéns.
ResponderExcluirMuito obrigado pelo carinho. Abraço.
ExcluirÉ sempre muito gratificante um poeta e prosador está sempre fazendo memórias da nossa Cidade, revivendo estórias e o mais incrível Novais pra mim chamo de NO, mais um apelido kkkk não esquece suas origens.
ResponderExcluirMuito obrigado pelo carinho. Grande abraço.
ExcluirNovais, gosto de ler o que você escreve e esta crônica vou levar para a sala de aula, chegou para mim na hora certa.
ResponderExcluirUm abraço e continue produzindo sempre.
Que bem. Fico feliz e agradecido. Abraço.
ExcluirParabéns novais pelas suas cronicas um grande abraco Amigo !!
ResponderExcluirObrigado. Abraço.
ExcluirTudo e muito veritmo, e engraçado só posso te parabenizar. Um abraço!
ResponderExcluirObrigao. Abraço.
ExcluirMuito legal sua crônica Adnil de Tião de Adnyl.
ResponderExcluirMeu caro escritor e poeta, muito obrigado. Abraço.
ExcluirParabéns pela sua crônica,adorei.sou irmao de Antônio Bahia.
ResponderExcluirMuito obrigado, meu amigo. Abraço.
ExcluirFantástica a crônica. Quem teve o privilégio de viver no interior sabe o
ResponderExcluirvalor e a emoção dessas maravilhosas lembranças. Parabéns ADNYL.
Obrigado, meu amigo. É isso mesmo. Grande abraço.
ExcluirParabéns Novais pela crônica.
ResponderExcluirQuem comenta é Cesar de Aracaju, amigo de Regina.
Obrigado, meu amigo. Um grande abraço, Cesar.
ExcluirGostei da sua crônica,parabéns!!
ResponderExcluirSuas crônicas são as melhores! Amei.
ResponderExcluirObrigado Novais pela referência. Muito bom ouvir suas estórias /cronicas. Uma honra tê-lo como conterrâneo e amigo. Seu pai Tião tem o mesmo apelido do meu saudoso pai Tião. Tião sapateiro e Tião do Mercado. Abcs 👏👏
ResponderExcluir