domingo, 22 de dezembro de 2019

Uma noite chamada Natal

Num certo ano da década de 1980, quando ainda era funcionário do Banco do Estado da Bahia, havia planejado passar o Natal em Santa Maria da Vitória, mas, por uma razão que não me recordo, a viagem não deu certo e eu acabei tendo que ficar em Salvador, trancafiado num apartamento, vendo o Natal acontecer lá fora. Porém, não foi tão ruim assim. Aproveitei o momento para refletir, ouvir música e, finalmente, escrever o poema Uma noite chamada Natal, que me serviu de bálsamo, de resignação e me fez relembrar antigos Natais.



Uma noite chamada Natal


Quatro formidáveis paredes me detêm,
Prendem-me o corpo físico, inerte.
Porém, a vontade incontida de voar
Me leva a mundos imaginários:
Vou até Pasárgada, de Bandeira, e
Encontro, sem esforço, a mulher
Que quero do sonho não sonhado.

Tudo é tão rápido quanto inexplicável
Porque o tempo aparentemente gasto
Não cabe no transcorrido tempo real.
A viagem é estranhamente bela
Porque me deixa nos olhos da vida
Um agridoce gosto de saudade.

Volto aos Natais de um sapato de couro:
Duro, surrado...
Embaixo de uma cama de molas espirais
E colchão de junco: artesanal, xadrez,
Cuidadosamente confeccionado,
À espera de uma bola de matéria plástica.

Mas os dias são outros e bem reais,
E quatro formidáveis paredes de um
Apartamento me detêm, inapelavelmente,
Restando-me degustar os sofridos
Versos deste poema que, ainda assim,
Ousam libertar-me desta clausura.

Feliz Natal - Feliz 2020

Que esta trova encerre meus desejos de um Feliz Natal e um Ano de 2020 repleto de realizações, Amor, Paz e Harmonia. 

domingo, 8 de dezembro de 2019

Minha cara vista por alguém

Esta crônica é uma homenagem a estes artistas maravilhosos que brincam com a nossa cara. E nós nos divertimos com isso. Confiram e se divirtam também.

Mês passado estive em Santa Maria da Vitória, o que não constitui novidade alguma, porque sempre que posso vou visitá-la para recarregar as “baterias”. E numa manhã, quando desfrutava de um delicioso pão com ovo frito e café na Padaria Novo Horizonte, da Teixeira de Freitas, eis que encontro com Lucas Nunes, aluno do curso de Artes Visuais, da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB) a fazer o mesmo que eu. Na dele!

Ficamos ali no balcão a papear, quando percebi que ele, vez por outra, olhava para mim e rabiscava num guardanapo. Logo concluí que fazia algum desenho da minha “estampa” e “fiquei na minha” à espera do resultado daquele “olha e rabisca”. Não demorou muito e Lucas me apresenta o papel:

— Taí, figura macrobiótica, o sapo que rabisquei. Veja se parece e se gostou.


Caricaturas de Novais Neto pelos traços de Lucas Nunes. 2019.
Novais Neto por Paulo Setúbal. 1980.
Claro que gostei. E parece! E muito! E ficamos ali a conversar. Falei que tinha alguns desenhos caricatos feitos por outros artistas, inclusive um busto modelado em argila e uma peça com expressividade de caricatura igualmente amoldada com o mesmo material, inspirada num desenho caricato em papel, publicado no meu livro Ave Corrente (1992).

Lucas, então, me pediu para que eu ficasse na mesma posição por mais tempo, a fim de facilitar-lhe o trabalho. Assim o fiz e, no final, apresentou-me mais uma caricatura com expressividade mais definida, que igualmente gostei muito.

De volta a Salvador, durante a viagem, fiquei a maturar de como surgiram alguns desses trabalhos artísticos. O primeiro foi ainda na década de 1980, quando foi ver reunidos no Shopping Iguatemi, o cartunista e chargista paulista Paulo Caruso; o ilustrador, caricaturista e artista plástico espanhol Gonzalo Cárcamo, além do candeense Paulo Setúbal, artista plástico, cartunista, quadrinhista e caricaturista, que me agraciou com bela e expressiva caricatura.


Depois disso, já na década de 1990, num passeio a Brasília, cidade onde já morei, fui com meu primo Tião Álvares ao Conjunto Nacional, quando encontramos um artista modelando em argila, por simbólico valor, a quem se dispusesse a ficar, imóvel, por algum tempo a vê-lo, com inacreditável agilidade modelar bustos. Claro que não perdi a oportunidade de ver-me amoldado.

Num primeiro momento, o artista, que infelizmente não anotei o nome e nem pude identificar pela assinatura, fez um busto. Em seguida, mostrei-lhe a caricatura feita por Paulo Setúbal, inserta em meu livro “Ave Corrente (1992)”, que habilmente também moldou. Esse desenho faz parte dos guardados do conterrâneo e amigo Jairo Rodrigues, artista plástico e professor, guardião do acervo de seu Guarany, doado, em vida, pelo mais famoso carranqueiro do Brasil, cujo nome completo é Francisco Biquiba Dy Lafuente Guarany, baiano, santa-mariense.


Busto de caricatura de Novais Neto modelado por Mestre Zaia. Brasília, junho/1993. Foto: Tião Álvares.


Bustos de Novais Neto modelado por Mestre Zaia. Brasília, junho/1993. Fotos: Novais Neto.


Ainda nos anos de 1990, fui presenteado por uma namorada com a fiel reprodução de uma foto feita pelo arquiteto e artista plástico Rafaelli Lima. Mais presentemente, o poeta e desenhista coribense Uarle Santana ofertou-me também uma caricatura, que muito me agradou.

Novais Neto por Rafaelli (1990) e Urle (2019).
Bem recentemente, ano passado, alguns maravilhosos desenhos de bustos de personagens santa-marienses foram feitos pelo aluno da UFOB, Gabriel Ritano, músico e artista plástico, no muro de pedra abaixo do Alto da Igrejinha, apelidado de Minhocão. E eis que apareço à direita da professora dona Valentina e do professor Jairo Rodrigues.

Desenhos de bustos feitos pelo artista Gabriel Ritano. Jandira, minha mãe, a observar, admirada. 2018.
Jailson Santos, o Jão, ilustrador deste blog, apresentando minha caricatura. 2019.
Fui presenteado, ultimamente, com uma maravilhosa caricatura feita pelo amigo e colega, o agente de trânsito Jailson Santos, que assina seus desenhos como Jão. E é ele o ilustrador deste blog, sempre que necessito de suas habilidades artísticas para tornar mais atraente meus modestos textos.

Por fim, é notório que cada artista realça em seus traços aquilo que lhe parece marcante na pessoa que ele desenha ou modela. E, do outro lado, o modelado ou desenhado se vê em algum traço do artista. Particularmente, vejo-me em todos os traços de cada um deles. Afinal, é minha cara vista por ele, por quem sabe ver... Artisticamente, sem dúvida alguma.

Em tempo: Aprecie neste blog, se não viu ainda, a crônica “Um alguém com a minha cara” (<https://www.novaisneto.com/2019/05/um-alguem-com-minha-cara.html>), na qual mostro algumas caras que muitas pessoas acham parecidas com a minha, que vão de Mazzaropi, passando por Seu Madruga, até (acreditem!) o bigode de Charles Bronson. (Risos).

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Uma cena não cotidiana

Nesta crônica, uma cena que me sensibilizou, pude ver que nem sempre as bestas soltas são aquelas que julgamos sê-las. Confiram e se emocionem também.

Ilustração de Jailson Borges (Jão). 2019.
Em dias de bestas soltas, quando o ser humano nem sempre é mais visto como tal — tamanha insensatez dos nossos (des)semelhantes — depararmos com gestos nobres são momentos relativamente raros e únicos.

Felizmente, ainda há aqueles que ousam driblar a apatia, como fez o protagonista da cena que presenciei ao passar de ônibus na tarde de 11 de janeiro de 1993, defronte ao Teatro Castro Alves, em Salvador, Bahia.


Na pista em frente ao referido teatro, parou um coletivo distante do calçadão. Dele, desceram várias pessoas e, por último, uma senhora negra, bem vestida, de presumíveis setenta anos, andando com certa dificuldade, amparada a uma bengala.

Por alguns instantes, titubeou na pista, atarantada. Nesse ínterim, um moleque de rua, raquítico, trajando apenas um calção sujo, descalço, teve a iniciativa de parar o fluxo de veículos e ajudá-la na travessia até o passeio daquela casa de espetáculo.

Fosse esse alguém um transeunte qualquer, o gesto não deixaria de ser humanitário, tornou-se, todavia, mais emocionante porque, além de o autor do belo espetáculo nem perceber a grandeza do seu ato, seria mais fácil prever que ele iria “puxar” a bolsa daquela pobre senhora, cotidiana cena em nossas metrópoles.


Neste mundo hodierno, no qual bestas soltas nos rodeiam diuturnamente, aqueles que muitas vezes aparentam sê-las – como o garoto desse episódio – acabam nos dando verdadeira lição de vida, humanidade e cidadania. Foi verdadeiramente emocionante para aqueles sortudos passageiros que do ônibus puderam presenciar tão incomum, bela e inolvidável cena.

Em tempo: Esta crônica foi publicada na seção Espaço do Leitor, do Jornal A Tarde (Salvador, BA), do dia 17/1/1993 com o título “Sensibilizado com uma boa ação”. Publicada também no Jornal Cultural – Blocos, Ano II – 10, Fev/Mar/1993 (Rio de Janeiro, RJ) e no Recanto das Letras, onde está também disponível: <https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/2344598>. Acesso em: 10 nov. 2019.

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

O verbo que se fez carne, que se fez verbo

Nesta crônica natalícia, pelos meus 62 anos, alguns verbos conjuguei, todos eles amparados no verbo viver, o mais bonito, o mais desejado. Confiram.

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”. (João 1:1); “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós [...]. (João 1:14) E sem maiores delongas, por força ilustrativa desta crônica, digamos que tudo aconteceu exatamente como está nas Escrituras Sagradas, sem levarmos em conta eventual simbologia.

A continuar a célere marcha do tempo, já no ano de 1957 da Era Cristã, ele veio ao mundo: um mundo conturbado, vítima de duas grandes guerras mundiais, incontáveis catástrofes naturais e outras tantas provocadas pelo homem — esse animal (ir)racional — enfim, um mundo bem diferente: final dos tempos para muitos!

Vinte anos depois, em 1977 — adulto já — nem percebeu estar a viver a conjugação do verbo: um verbo neológico, raramente usado, o verbo vintar, certamente o mais belo deles, não pela eufonia, mas por dizer respeito à fase mais bonita e viçosa da existência humana na qual sonhos e incertezas andam pari passu. Ele, então, passou a ser um vintenário sonhador e poeta.

Em 1987, ele trintou. Tinha, certamente, plena consciência do que era ser um vivente trintenário. Na ocasião, tentou fazer um poema para homenagear a si mesmo. Mas esbarrou na tentativa. Ou melhor, ainda escreveu uma mensagem rememorativa dizendo-se feliz por viver intensamente a terceira dezena existencial.

À luz, no entanto, das constatações científicas, principalmente aprendidas nas aulas de Biologia, recordou que o envelhecimento dos tecidos e a diminuição gradativa das forças musculares seriam doravante inevitáveis e visíveis. Nada assustador: ele se sentia mais maduro, mais sereno, mais produtivo e jovem de espírito, não sentindo — ainda — o peso cumulativo dos outubros vividos.

Ano de 1997, mês de outubro, dia 24. Ele é pai de uma linda menina (êta corujice explícita!) de um ano e meio. Fez algumas coisas certas e outras tantas que não frutificaram. Bem mais maduro, segue poeta sonhador, embora “as pedras do caminho” o tenham tornado mais crítico, mais consciente, por isso mesmo a vibrar mais com vitórias alcançadas e das intempéries a retirar lições.

E o Verbo? Lembra-se do Verbo que se fez carne? Pois bem! As dezenas perfeitas, isto é, os numerais arábicos cardinais a denotar contagem natalícia, que se fizeram ao longo dos tempos os verbos vintar e trintar, continuam sua conjugação atemporal. E assim, é a carne que se vai transformando em verbos e, gradativamente, habitando em mim: quarentei!

Salvador (BA), 24 de outubro de 1997.

Em tempo: Depois do verbo quarentar, há 22 anos, quando esta crônica foi escrita, cinquentei, sessentei, na esperança de que outras conjugações verbais hão de vir. E que venha o próximo verbo que pretendo conjugá-lo na primeira pessoa do Pretérito Perfeito: setentei. Hoje, ainda conjugado no Futuro do Presente: setentarei. Se Deus assim desejar! E que seja esse o desejo dEle.

Santa Maria da Vitória (BA), 24 de outubro de 2019.

sábado, 28 de setembro de 2019

Ensinamento canino para humanoides

"No trânsito, o sentido é a vida", é o que nos ensina, nesta crônica, um pequeno vira-lata.

Finalzinho de tarde de um dia qualquer na Cidade do Salvador, lá pelos idos de 2005 ou 2006. Marcos Guimarães, com sua peculiar elegância e postura irrepreensível, adequadamente trajando seu uniforme de trabalho, talonário de autuação e caneta nas mãos, e eu, à época, um aprendiz ainda em estágio probatório na Transalvador, observávamos o trânsito que fluía ininterrupto na Ligação Iguatemi-Paralela, mais conhecida pela sigla LIP.

Tudo, como foi dito, absolutamente dentro do esperado para aquele lapso temporal. Porém, o trânsito é muito dinâmico e, de um momento para outro, tudo pode mudar e beirar o caos. De repente: buzinaço, frenagens bruscas, xingamentos, gritos e o trânsito, outrora frenético, ficou lento e congestionado.

Meu colega e eu, mesmo acostumados com anormalidades dessas ocasiões, vimos, serpenteando entre os veículos, um corredor urbano, bem trajado, do tipo atlético aparentemente “bombado” e cérebro diminuto, a provocar a ira de condutores e indignação de transeuntes, deixou a todos estupefatos quando, ao terminar a travessia das pistas, tranquilamente subiu no passeio e, a andar, seguiu se itinerário sem nenhuma pressa, a contrariar o que houvera feito instantes passados de modo irresponsável e imprudente.

Por outro lado, uma cena inobservada por muitos pedestres, um cãozinho vira-lata, magricela, pestilento, tenta atravessar a pista e quase é atropelado. Recuou, assustado e, ao perceber algumas pessoas aglomeradas naquele local, posicionou-se bem atrás delas e, embora a matar pulgas que o atormentavam, aguardou pacientemente o fechamento do semáforo para atravessar para o outro lado da pista. Quando isso aconteceu, ele seguiu a multidão e saiu a farejar restos de alimentos sem correr o risco de atropelamento.

Ilustração de Jailson Borges (Jão). 2019.
O que se pode observar nesses dois episódios? Algo muito simples, imagino eu. Se por um lado alguém supostamente racional, pensante, expõe a própria vida numa atitude impensada e grotesca, por outro lado, um ser sabidamente não humano, mas orientado pelo instinto preservador da espécie, certamente vítima de algumas bordoadas veiculares, acabou tendo ações que se esperariam daquele tresloucado e inconsequente corredor citadino.

E aquele pequenino cão vira-lata, doente, esquálido e pestilencioso, abanando um rabinho quase sem pelos — mas feliz — seguiu seu incerto caminho a virar latas em busca de comida para lhe garantir mais um dia de sobrevivência, deu sua contribuição canina, mesmo sem saber, a tantos quantos expõem a própria vida, irrefletida e injustificadamente.

Salvador (BA), 18 a 25 de setembro de 2019.
Semana Nacional do Trânsito
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Obs.: Crônica publicada inicialmente no Jornal da Associação dos Servidores em Transporte e Trânsito do Município (Astram), nº 16, Junho 2014, p. 4.

domingo, 22 de setembro de 2019

Um atleta incansável

Quando pensamos que já vimos muito, na verdade, não vimos quase nada na vida, é o que mostro neste microconto.

Dia desses, ao dirigir-me à Transalvador,  no Vale dos Barris, meu local de trabalho, passando pelo Dique do Tororó, avistei parcialmente uma cena que me atiçou a curiosidade. Era de alguém, talvez um andador, um corredor ou um grande atleta numa mesma posição por um longo tempo.

Procurei passar bem perto do local para conhecer um superatleta. Qual foi a minha surpresa ao ver que o suposto esportista só tinha pernas de EPI e poderia ficar por um muito mais tempo na mesma posição, porque a vontade dele é a vontade do dono das pernas humanas e não a dele.


Restou-me, portanto, apenas sorrir e registrar a singularíssima imagem produzida por um Equipamento de Proteção Individual (EPI).

Píer do Dique do Tororó, Salvador, Bahia, Brasil. Foto: Novais Neto. 2019.

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Seu Upa e Seu Cupa

Nesta crônica, apresento-lhes um desses propagandistas de milagrosos produtos que os vemos vender nas praças e feiras livres das nossas cidades.

Não tem jeito mesmo! É essa a conclusão a que chego, agora, neste exato momento. Já fiz inumeráveis promessas de não falar tanto de saudade em minhas crônicas. Mas ela — a saudade — é teimosa, não “larga do meu pé”. E eu acho até bom, sabe por quê? Porque ela me revigora, ajuda-me a enfrentar a dureza cotidiana.


Hoje, não sei por que bulhufas — uma vez mais — voltei aos tempos da Casa do Estudante de Santa Maria da Vitória, a inolvidável Caes, década de 1980, localizada na Ladeira do Hospital Santa Isabel, aqui em Salvador, Bahia.

Recordei-me de Julinho (nome fictício), um dos residentes que ao retornar da escola, já perto do meio-dia, apresenta-nos uma grande novidade: um sabonete que prometia curar tudo, segundo ele, dito por um propagandista na Praça da Sé.

Antes, porém, de dizer que sabão foi aquele, volto ainda mais no tempo e no espaço e agora estou na minha terra natal, anos 1970, a lembrar-me de Zelino Jega Véia e Chiquinho Boca Aberta, mercando pão quentinho ao romper do dia pelas ruas da Rua de Baixo e da Rua de Cima (isso mesmo!):

— Ê o pão! Ê o pão carteira, sovado e de sal.

Ou na parte da tarde:

— Ê o ginete, a peta, o ximango, a queca! Quem vai querer? Tá quentinho, da hora!

Isso me fez recordar, ademais, uma figura que por lá apareceu dizendo ter sido goleiro das divisões de base do Vitória ou do Bahia. Não me recordo direito. A bem da verdade é que ele se esforçava muito como guarda-meta (êta coisa mais antiga!), porém, a lembrança que dele ficou, foi a forma exótica, incomum de anunciar seus produtos nas ruas santa-marienses:

— Cinquenta, paca, tatu, cobra assada, cotia moqueada e galinha de moqueca! Olhe aí. Quem vai querer?

E um detalhe curioso que me foi lembrado por Hermes Novais, meu irmão, é que ele anunciava isso tudo e só vendia pastel e banana real. Imagem!

Como, naquela época, pouco se ouvia falar de Salvador entre nós, jovens, muito menos ainda a palavra moqueca, o goleiro soteropolitano assumiu o cognome Moqueca, chegando a defender as cores da Associação Atlética Castro Alves por algumas temporadas.

Vale lembrar que ainda hoje os mais velhos da cidade se referem a Salvador como sendo Bahia, verdadeiramente. Haja vista a grande distância da Capital, a população regional tem maior intercâmbio com Goiás, Brasília e Norte de Minas. Os mais velhos, como meu pai, normalmente dizem “vou pra Bahia”, quando se referem à eventual viagem a nossa Metrópole.

De volta ao nosso assunto principal, o tal “sabonete cura-tudo”, certa ocasião, ao passar pela Praça da Sé, não é que encontrei possivelmente o mesmo vendedor, cercado por curiosos e desocupados, tirando uma de médico “tudologista”, o que me fez lembrar, sem dúvida, o sabonete de Julinho, amigo já referido no início desta crônica. Parei por uns instantes para ouvi-lo mercar:


Plano Inclinado Gonçalves, Salvador. Foto: Novais Neto. 2019.
— Meus amigos, este sabão que vocês tão vendo na minha mão é o mais novo milagre da medicina natural do Brasil, quiçá mundial! Cura tudo quanto é doença de pele: pano-branco, pano-preto, creca, impigem, unha encravada, ziquizira, mijadura de potó, bicho-de-porco e até chulé da miss Bahia do Irã — garantia ele com indisfarçável conhecimento farmacológico.

E para entreter ainda mais seus ávidos assistentes, vez por outra mirava o Plano Inclinado Gonçalves a sua frente e soltava uma daquelas frases de duplo sentido:

— Vocês tão vendo o Plano Inclinado ali? Pois bem. Reparem bem direitinho nele: quando uma gaiola sobe, a outra gaiola desce. O nome de uma gaiola é Seu Upa e o nome da outra gaiola é Seu Cupa. Agora vejam o que acontece: quando Seu Upa sobe, Seu Cupa desce! — e repetia, repetia, repetia com toda seriedade do mundo:

— Quando Seu Upa sobe, Seu Cupa desce! — e mirava os sorridentes espectadores.
Ilustração de Jailson Borges (Jão). 2019.

A plateia delirava, “caía na risada” e o mercador, impassível, imperturbável, voltava a falar do seu miraculoso e insólito produto, que nada mais era senão algo parecido com sabão de coco embrulhado em papel laminado para enganar os pacóvios, simplórios e desavisados ou — sabe-se lá — propiciar até mesmo um dubitável Efeito Placebo!

Salvador (BA), 16/9/2019.

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

O colega de Anderlaine

Nesta crônica, apresento-lhe Seu Minelli, vítima da invasão cotidiana de palavras estrangeiras em nosso idioma pátrio. 

A invasão desenfreada e desmedida de palavras alienígenas, nos últimos 20, 30 anos, até mais, principalmente as advindas da Internet, tem causado urticária em muitos de nós, para não dizer embaraços e situações burlescas.

Quando digo “muitos de nós”, refiro-me àqueles de meia-idade, pouco habituados ao mundo cibernético, ainda tateando ou procurando adaptar ao mundo dos mais jovens, hábeis internautas, muitos desses termos até enfeiam e agridem nosso já tão maltratado idioma pátrio: o Português.

Isso, a bem da verdade, não constitui coisa nova. Há muito, nossa língua vem sendo invadida por termos estrangeiros, fruto de traduções que não encontram similares ou por mero modismo. Entendo também que muitas dessas palavras enriquecem o Português, outras... tenho minhas dúvidas.

Quando bancário, havia uma expressão que usávamos rotineiramente sem saber (pelo menos eu) de que se tratava de uma tradução livre do inglês: Correio Eletrônico, tipo de mensagem enviada para a rede de agência do banco, que nada mais é senão o tão conhecido e trocado E-Mail (Eletronic Mail).

E por falar em e-mail, muitos já tentam adaptá-lo a nossa pronúncia e grafia, preferindo escrever “emeio”. Se vai vingar, o futuro é quem vai dizer. A despeito dele, desse tal e-mail, já tão difundido, meu pai me perguntou, certa vez, quando assistia a um jogo na TV:

— Novais, o que é e-mail, que eu vejo na revista, no jornal e aqui na televisão?

Vale registrar que ele pronunciou e-mail como se fosse uma palavra oxítona, isto é, com a sílaba tônica no “il”, e fortemente pronunciada — “e-ma-íl” — como é do seu jeito.


Foto: Reprodução / Facebook. 2019.
Na época, expliquei-lhe do que se tratava. E ele entendeu. Se hoje fosse, meu pai não estaria “errado” e eu lhe apresentaria Email Suarez Barboza, policial da Dirección Nacional de Identificación Civil, Republica Oriental del Uruguay, segundo reporta um e-mail que circulou na Internet com a cópia da Cédula de Identidad do uruguaio, ou mesmo, ainda hoje, no perfil dele no Facebook, é possível comprovar.

Pois bem, esta mesma invasão que chamei alienígena, fez-me vítima várias vezes, em sala de aula, quando pronunciei “erradamente” “firestóne” em lugar de “fáirestone”; “licra” em vez de “laicra”. E por aí vai. E olhe que aspeei o termo “erradamente”, logo no início, para justificar que não sou obrigado a pronunciar “corretamente” palavras de outro idioma. Mas quem perdoa? Quem não quer tirar sarro? Fazer uma gozação? Portanto, é melhor ter certa prudência.

E foi justamente isso — prudência — o que não teve Seu Minelli: cidadão de meia-idade, sempre risonho, amigo, que aceita com bom humor as brincadeiras, um sujeito bonachão, engraçado, um tipo zen, um bon vivant.

Seu Minelli inventou de continuar os estudos. Já tem dois cursos de nível superior, mas resolveu fazer um novo curso universitário, Urbanismo. Não gosta de ficar parado a cuidar de netos, fazer compras em shoppings. Isso não. Ele gosta é de estudar, futucar a Internet, WhatsApp, celular de última geração... Isso é com ele.

E assim, facilmente, adaptou-se aos novos costumes, às gírias e aos linguajares dos jovens colegas. Ele, o coroa da sala, já se sentia muito à vontade, enturmado. Brincava com todos e todos o respeitavam, tratavam-no — inclusive os professores — de “Seu Minelli”, com toda a deferência que seus loiros e grisalhos cabelos poderiam insinuar (ou exigir).

Início de mais um semestre letivo. Seu Minelli, sentado na primeira fila, bronzeado, compenetrado, pois não havia feito prova final — passou direito em tudo —, tinha o respeito da turma e a mestra sabia disso, por isso mesmo sempre a ele se dirigia:

— Seu Minelli, anote aí o e-mail da turma e a senha, para que todos tenham acesso, quando quiserem mandar alguma mensagem para mim, tirar alguma dúvida...

— Mandaí, pró. Já demorô — todo solto, cheio de gíria e intimidade.

— Anote, então: urbanismo underline matutino arroba uneb ponto bê-erre.

— Pró, quem é esta colega que eu não conheço ainda?

— Que colega, Seu Minelli, que o senhor não conhece ainda?

— Essa tal de Anderlaine que a senhora acabou de falar.

A mestra tentou explicar para Seu Minelli o que é underline, mas não conseguiu devido aos incontroláveis risos da turma. Tentou dizer-lhe que a “anderlaine” (underline) por ele referida significa “sublinha ou linha abaixo”, que é aquele velho tracinho posto abaixo das letras que as antigas máquinas de datilografia já traziam, a fim de destacar uma palavra, uma frase; é o grifo de idos tempos, já que nas máquinas não havia como negritar.

Foto: Novais Neto. 2019.
A turma estava em êxtase, era unissonante gargalhada, inclusive da contida professora. E ele, que também sorriu à beça da terrível mancada, não foi perdoado pelos colegas e passou a ser tratado doravante, bem carinhosamente, por Seu Minelli de Anderlaine. Muito chique, não é mesmo, Seu Minelli? Aliás, Minelli de Anderlaine!

Para seu consolo, Seu Minelli, se isso serve, o senhor não está errado, Anderlaine existe sim e não é somente uma. Depois de fazer umas pesquisas no Google, acabei por encontrar algumas Anderlaines, que podem ser verificadas nos sites abaixo, acessados em 25/8/2019:

Jaqueline Anderlaine da Silva, disponível em: <https://www.escavador.com/sobre/237876972/jaqueline-anderlaine-da-silva>.

Anderliza Anderlaine da Silva Ramos, disponível em:<http://www.nc.ufpr.br/concursos_externos/pmc2016/resultado_objetiva/02_todos.pdf>.
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Obs.: Perfil no Facebook de Email Suarez Barboza disponível em: <https://www.facebook.com/Email-Suarez-Barboza-73052579487/>. Acesso em: 25/8/2019.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Se eu nascesse de novo

Inspirado numa canção de Luiz Gonzaga, por título "Se eu nascesse de novo", assim como ele, também conjecturei sobre essa instigante hipótese. Veja o que consegui.

Ao ouvir o CD “Volta pra curtir”, de Luiz Gonzaga, apresentação gravada, ao vivo, no Teatro Tereza Rachel, em março de 1972, dentro do período conhecido por “Anos de Chumbo” ou do “Milagre Econômico”, inspirei-me a escrever esta crônica, porque o Rei do Baião, num dado momento do show, conjectura como gostaria de ser caso nascesse de novo ou, com suas próprias palavras: “se eu nascesse de novo”.

A partir do pressuposto de Gonzaga, “se eu nascesse de novo”, eu mudaria alguma coisa, diferentemente dele, de que nada mudaria. No entanto, seria santa-mariense, filho de Sebastião de Novais Neves, Tião Sapateiro, e de dona Jandira Almeida Neves, professora leiga, e gostaria de ter a mesma genealogia.

Alteraria, sim, meu nome. Em vez de chamar-me Adnil Novais Neto, preferiria que fosse igualzinho ao de meu avô paterno: Adnyl de Novaes Neves, acrescentando apenas o agnome “Neto” e não subtraindo o “Neves”, como ocorreu.


Como curiosidade, no título de eleitor do meu avô, expedido em 1932, assinado pelo Juiz Eleitoral Germano Machado dos Santos, está lá, manuscrito. Profissão: artista. Ele era sapateiro e seleiro, isto é, era um artífice, artesão, artista que desenvolvia trabalhos manuais bem específicos como, por exemplo, os executados pelo alfaiate, carpinteiro etc.

Ainda a propósito do nome do meu progenitor, Adnyl, há, além de mim (Adnil), mais dois: outro neto chamado Adinil Neves de Sá e um sobrinho, Adenil da Costa Claro. Diante, portanto, de grafias dessemelhantes, se nos ativermos restritamente a ela, na verdade, nenhuma homenagem foi feita ao avô e tio. A intenção valeu, sem dúvida alguma.

Certa vez, questionei insistentemente meu pai sobre o porquê de ele haver registrado meu nome de forma incorreta. Lembro-me de que ele olhou seriamente para mim e relembrou de forma irônica o que, de fato, era para acontecer:

— Você ainda pegou foi o boi! Eu ia botar mesmo era Adnil Novais Júnior.

— Júúúnior?! Mas por que Júnior, se não tenho o nome do senhor?

— Pra ver se você queta com tanta ispicula — e botou ponto final em meu questionamento.


Até pensei numa resposta pronta normalmente dada pela garotada, quando alguém dizia a palavra "ispicula", em situação semelhante, mas não dei, obviamente: “Ispicula, seu pai toca, sá mãe pula”.

Da mesma forma que aconteceu comigo, registrou meus irmãos sem obedecer a uma lógica: Hermes, que é homenagem a meu avô materno, deveria chamar-se Hermes Ferreira de Almeida Neto, mas consta em sua certidão de nascimento, Hermes Novais Neto. Glécia de Almeida Neves que aparentemente obedece à lógica, o “de” foi acrescentado e a escrivã grafou Glécia no lugar de Glícia.

Por fim, Nena, registrada Janilza Almeida Neves. Tudo certinho não fosse a estranha mania de inventarem nomes. Janilza, como tantos outros que já vi, é uma sigla, vem de frações de nomes: “Jan”, tirado de Jandira (mãe) e “nilza”... Só Deus sabe!

Voltando “à vaca fria”, “se eu nascesse de novo”, gostaria de ouvir os mesmos palavreados do meu gueto: bola de gude calira; esfera carrusca; arapuca retrinca e pelotar. Isso mesmo, não é pilotar, sinônimo de dirigir, porém, pelotar — atirar pelota de barro com estilingue ou bodoque. Gostaria, ainda, de ouvir meu pai esgoelar:

— Jandira, cadê os minino?

— Novais t’aqui na cuzinha remedano você. E Hermes já escapuliu. Suverteu no mundo com os fii de Eli de Nona e Carlin de Dona Lourdes.

— Novais.

— Sinhô.

— Vamo grosar uns couro, dipois vamo lá na Sambaíba. Mas vê bota uma calça cumprida por causa de mordida de jararaca e pra num moiá os cambito de aruvai.

Aruvai, você sabe o que é isso? Eu explico: é uma corruptela de orvalho. Ainda menino, eu já sabia que se tratava das gotículas de água impregnadas nas folhas das plantas, de manhãzinha. Não sabia, entretanto, que o nome verdadeiro era outro, e bem mais fácil: orvalho, como já foi dito.

Gostaria, ainda, de ouvir alguém perguntar: qual sua graça?; onde eu posso verter água?; as alvíssaras tu me pagas? Aliás, não se falava “as alvíssaras”, que quer dizer boas novas, porém, “as avistas”, frase usada quando alguém queria dar boa notícia a outrem, principalmente, a um amigo.

“Se eu nascesse de novo”, gostaria de escutar outra vez e grafar tudo ipsis verbis, isto é, sem me preocupar com escrita ou pronúncia correta, assim: minino fuxiquento; minino tulemado; êta minino ladino; hômi treiteiro; cê merece é umas curriada; dexa de trapulinagem; chilepada; cambada de severgonho; dexa de curiar a vida dos zonzoto; larga de oiá a vida aêa, ingüento; ô burralidade; queta cum essa muganguera; hômi qüá; cê tá é campado; cê tá é doído pra escuvitiar; disgrama etc.

Além de tantas e tantas outras falas sui generis, eis mais algumas: minino gosta é de jogar cabriola; aquilo parece uma leqüera; minino maletoso; traste “rúim”; troço “rúim”; mulher malamanhada; para de latumia, seu chibata; dexa de caçuada; minino lutrido; mufino; enganjento; assunta o lutrimento dele; rodera de caminhão; dexa de bestage; ô moss; isturdia; para de bestajada; êta minino chei de patacoada; pode quetar o facho; xibungo; xereta; pisquila; diacho; diabo a quatro; malemal; zanoio; muganga; travial; puleja; tá pileriano; capadócio; burundanga; paúra; tendepá; forante etc.

E por conta de uma gíria, “deixa de sugesta”, que deu origem ao termo “sugesteiro”, sempre repetida pelo conterrâneo e colega dos tempos do Curso Primário, José Marcelino, de saudosa memória, conhecido até então por Zé de Antõi Bobó, foi apelidado por seus amigos, principalmente, pelos jogadores de bola, de Zé Sugesta.

Pois bem, além destas frases ou termos, há uma palavra — o verbo cuspir — que passou a ter outra grafia, ESCUPIR, isso mesmo, sem o “L”. Não confundir com esculpir, de fazer escultura. E assim, um conhecido adágio popular tomou esta risível forma: “quem escope pra riba, o escupe cai na cara”.

Ah se eu nascesse de novo! Se eu nascesse de novo, gostaria — sinceramente — de ser o que sempre tenho sido e quem sou: uma pessoa de hábitos simples, santa-mariense, colecionador de amigos, contador de causos (dizem por aí que invento, mas não é bem assim, apenas floreio um pouquinho) e fazedor de versos e trovas.

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Obs.: Crônica revista e ampliada, publicada inicialmente no Recanto das Letras em 13/6/2010. Disponível em:<https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/2317800>.

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Tertúlia plácida para acalentar bovídeo

Apresento-lhes, nesta crônica, Baiano e Sinhô, santa-marienses de linguagem enigmática e trágico fadário.

Ilustração de Jailson Borges (Jão). 2019.
Você sabe o que vem a ser um sujeito indobeclível? E uma pessoa sub-relevapes, o que será afinal?

Certamente não sabe e jamais saberá. Dicionarista algum registrou estes termos. Mas eles existem. Não têm sinônimos. São adjetivos comuns aos dois gêneros. Servem tanto para elogiar quanto para desqualificar alguém. São pau-pra-toda-obra, no prolóquio popular mais adequado.

Essa é nossa Língua: idioma de origem românica, filha benquista do Lácio, a brindar-nos um horizonte de belas palavras. Peca por não ser tão técnica e objetiva como o Inglês e o Alemão, por exemplo. Ganha, porém, em sonoridade e plasticidade só comparável a outras línguas de origem latina.

Poucos são os privilegiados que a manejam com delicadeza e arte, e deixam fluir frases grandiloquentes que ecoam como canção de ninar.

É o que acontece, por exemplo, com aquele preciosista incorrigível que, a propósito de comentários sobre eclipse, esnobou a perífrase vernacular: “na pretérita centúria, meu progenitor presenciou o acasalamento do astro-rei com a rainha da noite”, em vez de simplesmente dizer que “no século passado, seu avô viu o eclipse solar”.

Quando esse mesmo amante-complicador do óbvio e simples chega a um boteco, pede que lhe sirvam “uma solução aquosa de rubiácea”, em lugar do apreciado cafezinho. Se deseja haurir uma cerveja, pede “um fermentado gélido de Hordeum vulgare”.

O mesmo cidadão preciosista não poupa sequer nosso líquido universal – a água. Uma vez sedento, para pedir um simples gole de água, solicita um copo de “protóxido de hidrogênio”, remetendo-nos à Química Mineral.

Certa feita, metido numa discussão que não lhe convinha, exatamente aqueles bate-bocas que não chegam a lugar algum, como diríamos: “conversa mole para boi dormir” ou “tertúlia plácida para levar bovídeo aos braços de Morfeu”, vociferou o preciosista: “vamos parar com esse colóquio flácido para acalentar bovino”.

E até mesmo para referir-se à batida frase “cada macaco no seu galho”, ele prefere o circunlóquio biológico: “cada símio na ramificação arbórea que lhe é conveniente”. Que chique, não é?!

Outros, entrementes, à margem das belezas do nosso vernáculo, mas admiradores dos bons falantes, chegam a criar palavras, mergulham fundo em neologismos e deixam boquiaberto quem flagrasse, por exemplo, Baiano e Sinhô simulando uma contenda.

— Você, Sinhô, não presta. Você não passa de um safado sub-relevapes.

— Pode ser, Baiano, mas você é um camarada subsindiques, um pau-d’água-de-marca-maior, isto sim! E te digo mais: mesmo assim, se eu morrer, você vai correndo atrás, seu indobeclível.

— Sabe de uma coisa: vamos parar com isso. Vamos deixar de muita renoclênia, porque o que somos mesmo é um bando de intratapes — finalizou o sempre magnilóquo Baiano.

Eles se foram. Adejaram céleres num atro dia para um mundo inconcebível e incognoscível. Lugar, por certo, onde sua linguagem louçã e enigmática encontrará ouvidos que bem melhor os entenderão.

Baiano, depois de uma noitada etílica, afogou-se nas águas do Rio Corrente, em Santa Maria da Vitória, no rosicler da aurora. Enquanto Sinhô, sorumbático e inconsolável, apartado abruptamente do amigo, despediu do mundo – também afogado – no mesmo aziago dia, no arrebol vespertino. E lá se foram os amigos indobeclíveis e sub-relevapes, vítimas da dipsomania.

Salvador do Mercado, folgazão e piadista contumaz, num piscar de olhos, fez verdadeira a máxima popular:

— Isso é que são amigos! Até debaixo d’água!

Finalmente, só para deleite, apreciemos o soneto, por título A uma deusa, atribuído ao poeta maranhense, Luís Lisboa, quando ele usa e abusa de neologismos, quase sempre por força de rimas.

Tu és o quelso do pental ganírio,
Saltando as rimpas do fermim calério,
Carpindo as taipas do furor salírio
Nos rúbios calos do pijom sidério.

És o bartólio do bocal empírio
Que ruge e passa no festim sitério,
Em ticoteios de partano estírio,
Rompendo as gâmbias do hortomo-genério.

Teus lindos olhos que têm barlacantes
São camençúrias que carquejam lantes
Nas duras pélias do pegal balônio.

São carmentórios de um carce metálio,
De lúrias peles em que pulsa obálio
Em vertimbânceas do pental perônio.


Viram só! Inventar palavras não é privilégio apenas de Baiano e Sinhô. Gente letrada também gosta de falar difícil e muitas vezes nada diz. O sabido também pode ser vaniloquente como meus saudosos conterrâneos.

A propósito, os termos rebuscados utilizados nesta crônica, raramente ouvidos no falar cotidiano, foram a forma encontrada de deixá-la de acordo com as perífrases, sobretudo lembrar Baiano e Sinhô, e não derramar inutilmente palavras difíceis para demonstrar falsa erudição.
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Obs.: Crônica revista, extraída do livro "Meu lugar é aqui no centenário de Santa Maria da Vitória". Salvador: Prescolor, 2009. p. 153, 164 p. Esta crôncao também teve sua primeira publicação no Jornal Comércio Hoje, de Santa Maria da Vitória (BA), edição de setembro/outubro-2007.

terça-feira, 9 de julho de 2019

Carta ao seu silêncio

Num tempo transcurso, há bastante tempo, redigi esta carta ao Silêncio e obtive respostas... de quem a leu!

Indesejável Silêncio:

Por não mais suportar o constante assédio da saudade a torturar-me, diuturnamente, mais uma vez ouso quebrá-lo. Sei que você é de vidro, por isso, muito frágil.

No começo, tudo era absoluto e monótono Silêncio entre nós. Eu aceitava porque não havia conhecido seu grito. Hoje, entretanto, tudo retorna ao princípio porque você resolveu calar-se, deixando-me abominável presente de grego: você mesmo, o Silêncio.

E assim, em completo Silêncio, fico a questionar algo que para você é inquestionável: permanecer em Silêncio enquanto seu ego alimentar de forma suave e prazerosa o desejo de vingança. Lembre-se, porém, que a vingança é o mais efêmero dos prazeres. Se é que se pode admitir que seja um prazer.

O Silêncio, por sua vez, é ausência que traz o desespero e sufoca o grito. O mesmo grito que tiraria de latência meu eco encarcerado. Um eco que não existiria sem um antecedente alarido que se fizesse uma “quebra de Silêncio”.

Diz-se — com matemática precisão — que “quem cala, consente”. Calar? Por quê? Se não aceito seu Silêncio? Quem sabe se esse Silêncio não seja a prova definitiva, cabal, de que nem mesmo você sabe explicá-lo. Ou, se é que sabe, quer enlouquecer-me em Silêncio.

Não. Não mesmo! Você não vai conseguir me tresloucar, descentralizar-me, ainda que meus ouvidos ouçam tão somente: Silêncio... Silêncio... Silêncio. Porque você só quer emitir Silêncio... Si-lên-cio...

Por fim, diante do melancólico Silêncio que me obriga a ouvir, despeço-me, Silenciosamente, convicto de que, doravante, ouvirá como resposta minha os ecos do meu (temporário?!) Silêncio.

Até...


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Obs.: Crônica publicada no Recanto das Letras em 2/5/2010. Disponível em:<https://www.recantodasletras.com.br/cartas/2232895>.

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Sambaíba, palco da minha infância

Nessa crônica, homenageio Santa Maria da Vitória pelos 110 anos de emancipação política e administrativa, lembrando seu primeiro bairro, meu palco da infância e adolescência.  

Árvore da família das dileniácias, Curatella americana, dispersa por todos os campos cerrados, que se caracteriza pelas amplas folhas, ásperas como lixa, flores e frutos pequeninos. A casca serve para curtir couro. As folhas são empregadas para lixar madeira e a madeira usada em carpintaria, marcenaria e obras internas.

Sambaíba é uma palavra de origem tupi, sã-ba’iwa que serve também para denominar um arbusto da família das tiliáceas, Trichospermum sp., a sambaíba-da-baía. É comum se chamar ainda sambaíba-do-rio-são-francisco, sambaíba-de-sergipe, caimbé, lixeira, cajueiro-bravo, craibeira e penteeira.

São estas, portanto, as qualificações científicas dadas pelos botânicos e encontradas no Aurélio. Por outro lado, a Sambaíba desta crônica é o nome do bairro mais antigo de Santa Maria da Vitória. Mais antigo e não menos esquecido, outrora, pelas autoridades da minha terra.

Sua denominação é herança da antiga Fazenda Sambaíba ali instalada, por haver muito desta planta, e como ainda são chamadas algumas capoeiras (roças) marginais esquerdas do Rio Corrente, nas proximidades do bairro.

Um lado pitoresco e lendário, segundo me contaram, envolve a origem do nome. Dizem que ele vem da justaposição do nome de uma dondoca muito bonita, Iba, que costumava agitar as Folias de Reis locais. Seus admiradores não a deixavam descansar um só instante, sob o uníssono apelo: Samba, Iba. Daí, em justa homenagem, foi dado o nome Sambaíba à fazenda onde ela morava. Certo é que há quem assine embaixo dessa história: Nélson Neves, o sapateiro, o músico. Duvidar, para quê?

Definições, origens e invencionices à parte, foi nesse rincão bucólico que a infância deste que escreve teve seus dias marcantes e inesquecíveis. Era para lá que, à tardinha, estava sempre disposto a passear. Um passeio, claro! Ir à roça já pensando que, no dia seguinte, bem cedinho, iria beber leite quente no curral, era verdadeiramente motivo de festa! Quando não era isso, nas águas (época das chuvas), se plantava capim, feijão, melancia, milho e maxixe.

Cabe aqui uma pequena ressalva para os dias atuais: criança que se preza não encara com muita seriedade o fato de ali ser um trabalho. Por essa razão, isso só acontecia quando estava em companhia de outros meninos para brincar, levando comida, água e a indispensável rapadura. Uma verdadeira festa.

São agradabilíssimas também as lembranças das partidas de futebol de salão jogadas numa quadra construída por empregados do Banco do Brasil na segunda metade dos anos 1960, para prática de futebol de salão e voleibol, onde é, hoje, uma das pistas de dança do Clube Social de Santa Maria (em ruínas). Logo depois, a turma migrou para o Campo do Derba.

Recordar os passeios, margeando o rio, entrando nas roças, no mato, que invariavelmente fazia quando saía para caçar (pelotar, atirar pelota de barro com estilinque, badogue ou zunga) passarinho ou apanhar pitomba, cagaita, procopa, grão-de-galo, melancia-da-praia. Isso é mais do que simplesmente voltar ao passado: é recriar os belos momentos da vida.

Tudo quanto leva a lembrar desse bairro-fazenda é motivo para agradecer a providência divina de ter vivido a infância, a adolescência e parte da juventude em lugar tão aprazível, humilde, acolhedor e privilegiado pela natureza.

Como nem tudo são flores, foi ali também que assisti a magarefes e vaqueiros cometerem atrocidades mil com indefesos e infelizes bovinos condenados à morte no Matadouro Municipal (Curral da Matança, como dizíamos), que naquele lugar fora instalado, próximo ao rio, onde eram jogadas as fezes dos animais abatidos.

Relembrar a Sambaíba é algo que sempre me empolga, deixa-me noutra biodimensão e saudosista, pois me sinto parte desse bairro. Não são, portanto, as palavras suficientes para expressarem o carinho a ele dispensado, porque estas são frágeis, perdem-se ao vento, e são incapazes de traduzir com fidelidade nosso sentimento. Ainda assim, faço-o com todo carinho.

A Sambaíba de hoje é um bairro empobrecido, entregue à própria sorte. Nem por isso deixa de ser o palco da saudade, de onde recolho as melhores e mais reconfortantes reminiscências infantis para guardá-las à posteridade.

A ela, à Sambaíba, a homenagem na essência desta pequena e pretensiosa crônica, é uma insignificância. Entretanto é a arma de que dispõe este que escreve, para tentar sensibilizar as autoridades da nossa terra, tentando mostrar que a Sambaíba é parte da história santa-mariense e, por este e outros motivos, merece mais atenção.

Em tempo: Esta crônica foi escrita em 26/1/1991. Posteriormente, numa visita em 2004, pude observar que o bairro foi lembrado. Já dispunha de um Centro Cultural, calçamento, água e luz, mas anseia ainda por mais melhorias.

Em 2019, quando lá retornei a convite da moradora e amiga Ísis Juliana, professora da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), pude observar que o bairro está completamente diferente daquele que conheci. Em quase nada lembra a Sambaíba de outrora, da minha infância, a não ser pela existência de dois tanques utilizados por meu pai para curtir couro, pelas as ruínas da antiga Algodoeira dos Coelhos e por um dos pés de jatobá, à margem do Rio Corrente, caído. E mais adiante, a Fazenda Sambaíba, do meu pai, a parte debaixo. Depois disso, somente o antigo corredor da Fazenda de Zé Manoel, que ainda resiste.

Desse modo, esta pequena crônica é uma tentativa de homenagear meus amigos e conhecidos de tempos idos, tais como: seu Alfredo, dona Jovem, seu Deoclides, Valdim e Isabel, seu Júlio Mãozinha, seu Júlio Careca, Domingos Bagaço, Domingos Preto, Cícero, Lega do Derba, seu Joaquim Bosta Quente e familiares, dentre outros que da memória, por certo, me fugiram.

Fotos numeradas indicadas no mapa elaborado pelo autor
Mapa da Sambaíba entre as décadas de 1960 e 1970. Elaboração: Novais Neto. 2019.

Foto: Reprodução / Google / Maps. 2019.

Fotos 1 (vide mapa): Vistas do Rio Corrente das terras da antiga Cooperativa.

Porto da Sambaíba (curtume): Novais e Tião Sapateiro. Foto seguinte: Hermes entre os irmãos Zéu e Bega.

Fotos 2 (vide mapa): Porto da Sambaíba e curtume de Tião Sapateiro.

Foto 3 (vide mapa): Tião, Novais e Hermes. Anos 1980.

Fotos 4 (vide mapa): Porto de Seu Tião. Foto: Hermes Novais. Anos: 1990.

Fotos 4 (vide mapa): Porto de Seu Tião. Foto: Novais Neto. Anos: 1990.

Fazenda Sambaíba: Novais e Hermes no curral. Anos: 1980.

Fazenda de Zé Manoel: Baixinho com o cão Peri e Zé Manoel agachado. Anos: 1970.

Corredor da Fazenda Sambaíba de Zé Manoel: Baixinho e Zé Manoel. Anos: 1970.

Foto: Reprodução / Facebook. Disponível em: <https://www.facebook.com/antonio.sousa.54540>.

Jatobazeiro remanescente ao lado do Cemitério Santa Verônica. Foto: Novais Neto. 2019.

segunda-feira, 17 de junho de 2019

O homem que matou o cabo da tomada do ferro elétrico

Neste conto, vejam como meu pai, Tião Sapateiro, tentou dar fim a uma "cobra" imatável.

O belo rosicler do crepúsculo vespertino lentamente desaparecia. Era momento de transição da tarde para noite, da indecisão temporal, do lusco-fusco. Enquanto isso, no Oriente, a estrela Dalva timidamente reluzia. Eu,  meu irmão e meu pai, naquela estradinha de chão, infestada de cobra, um areão danado, marginada por esparsos casebres com candeeiros já acesos, voltávamos da Sambaíba para casa, depois de haver apartado os bezerros das vacas, a fim de tirarmos leite para consumo familiar, no dia seguinte, logo de manhãzinha.

De repente, de uma humilde casinha, sai uma senhora espavorida, com uma renque de meninos nus da cintura para riba, olha para meu pai com a cara assustada e, aos berros, pede insistente socorro:

— Seu Tião, seu Tião, pelo amor de Deus, me acode, seu Tião. Tem uma cobra no meu quarto.

— Calma, sá Protila. Calma! Eu vou ver o que é, primeiro, tenha calma. Mas isso não é caçoada, não, sá Protila?

— Home quá! Qui caçoada, seu Tião. E eu sou lá muié de brincadera, seu Tião? Ela tá bem no quartim lá do fundo, de junto da cuzinha. Quando entrei lá, dei fé da bicha bem no meim do quarto. Assunta direitim que o sinhô vai ver ela lá.

Antes de entrar na morada daquela desesperada senhora, ele ordenou:

— Num entra ninguém comigo, não. Vou assuntar direito.

E, pé ante pé, com todo cuidado que a ocasião exigia, porque o rancho já estava escuro, ele foi embocando. Olhou, olhou e concluiu a investigação:

— Pelo tamanho, eu acho que é uma jaracuçu. Tá no meim do quarto mesmo, sá Protila. Vou arrumar uma vara boa pra esbagaçar essa bicha.

— Vixe! Minha Maria Santíssima! Num fala uma disgrama dessa, não, seu Tião. Quaje qu'essa infeliz me morde. Mas minha Nossa Senhora do Perpétuo Socorro me potregeu. Escapei por um milagre da minha santinha! Serepente é um bichim muito arriscoso, seu Tião. Toma muito coidado, home!

Nesse ínterim, um dos filhos de sá Protila, o mais pichutitinho, o raspa de tacho, cara de trinchete, vai entrando no quarto matreiramente, para que ninguém desse fé dele, mas sá Protila deu. E esgoelou:

— Sai daí, traste ruim, seu bosta mole. Deixa de saliência, seu exibido. Eta! mininim lutrido da disgrama. Se esse troço te morder um tiquim assim, seu malino, cê tá é pebado, cê vai bater diretim no Santa Verônica. Vai, pistiado, vai caçar mais o que fazer, seu pisquila! Deixa de curiar o que num é de sá conta. Num tá veno que isso é sirviço pra home assim que nem seu Tião? Vai, cai fora daí digero, seu diacho disgramado, lutrido. E vê se para com essa eguage! Tira esse dedo xujo da boca, minino. Meu Deus das Alturas, esse mininim parace que é mei tulemado, seu Tião! Pispia o jeitim dele.

Enquanto isso, meu pai foi procurar numa cerca mais próxima a melhor vara, aquela mais certinha, alinhada e comprida, para tentar dar fim à peçonhenta.

Volta à casa de sá Protila, pede silêncio absoluto, posiciona-se na porta do quarto, vê se a vara não vai enganchar em algum lugar e sapeca a vara, deita a vara com vontade mesmo. Dá umas cinco ou seis varadas bem dadas, espia de novo, assunta direitinho e desconfia:

— Ê, sá Protila! Num tá pareceno cobra, não, sá Protila. Tá muito paradinha pra ser cobra – mas, por via das dúvidas, ele dá outras tantas varadas e a danada continua inerte no meio do quarto.

Resolve, por fim, com muito receio misturado a medo e com o devido cuidado, enfiar a vara debaixo do corpo do suposto ofídio e o atira bem no meio do quintal, bem varridinho.

Quando a bichinha caiu no terreiro, a meninada, que assistia a tudo com muita atenção e curiosidade, dá uma tremenda gargalhada e o matador de cobra, com um risinho meio sem graça, constata, enraivado e injuriado:
Ilustração de Jailson Borges (Jão). 2019.
— Sá Protila, sá Protila, num é cobra, não, sá Protila. É cabo de tomada de ferro elétrico, sá Protila. Cê não viu isso, não? E eu aqui bestano qui nem um trouxa, fazendo papel de besta, só perdeno meu tempo! Home quá, eu tenho mais o qui fazê, sá Protila! — e o matador de cobra, eu e meu irmão exalamos no mundo com uma quente e outra fervendo. Doidinhos para sorrir também!

Em tempo: A primeira turma de Especialização em Arte e Ação Cultural, do Centro Multidisciplinar de Santa Maria da Vitória – Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), por sugestão das professoras Isis Juliana e Maria do Carmo, me presenteou com a encenação de dois contos meus: “O homem que matou o cabo da tomada do ferro elétrico” e “O fim do mundo já passou”, extraídos do livro “Meu lugar é aqui no Centenário de Santa Maria da Vitória”, adaptando-os para a radionovela “O ovo e a cobra de Seu Tião”.

Turma de Especialização em Arte e Ação Cultural, do Centro Multidisciplinar de Santa Maria da Vitória,
Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB). 2015.
Raquel Alecrim, cantora e aluna, ouvindo a radionovela “O ovo e a cobra de Seu Tião. 2015.

















Tião Sapateiro e a professora Maria do Carmo. Novais Neto e Tião Sapateiro. 2015.




















Deixo aqui, portanto, meu carinho e minha gratidão a todos os artistas e mestres, pelo afago, pelo pelo carinho e pelo inesquecível presente.
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Obs.: Conto revisto, extraído do livro Meu lugar é aqui no centenário de Santa Maria da Vitória. Salvador: Prescolor, 2009. p. 137, 164 p. Este conto também teve sua primeira publicação no Jornal Comércio Hoje, de Santa Maria da Vitória (BA), edição de julho/agosto-2007.

Quem sou

Historieta zodiacal

Às vezes, a vida nos surpreende tão imponderavelmente que nem mesmo o mais invulnerado coração pode p rever e prevenir-se de algo que não de...